Sexta-feira, 19 Abril

«Absolutely Fabulous: The Movie» (Absolutamente Fabulosas: O Filme) por André Gonçalves

O que faz uma comédia ser boa? Bastará o rácio de gargalhadas estar acima dos 50%, por exemplo? 

Em boa verdade “Absolutamente Fabulosas: O Filme” não defraudará as expectativas que terão sido colocadas. Nota-se até uma preocupação em transpor para cinema uma “sitcom” com uma carga identitária televisiva relativamente forte. Mas faltou mais que abrir espacialmente a narrativa… faltou que esta pudesse ter uma organização interna consistente. 

Nesta nova aventura, Edina e Patsy descobrem que Kate Moss ficou sem relações públicas, o que se revela uma oportunidade de ouro para Edina poder ser a sua nova gestora, juntando-a assim à sua lista de talentos limitada, que inclui as cantoras Lulu e Emma Bunton (ex-Spice Girl). Mas o destino faz com que a cantora seja atirada acidentalmente para o rio Tamisa, e que as culpas recaiam sobre Edina… 

Temos aqui o desfile de “cameos” do ano – para além das três celebridades acima mencionadas, há ainda espaço para outras caras conhecidas darem o ar da sua graça (Jean Paul Gaultier, Stella McCartney, Dawn French, Jon Hamm…), enquanto o duo de protagonistas tenta perseguir o melhor da vida. As gargalhadas vão sempre surgindo, umas mais imediatas, outras mais perceptíveis para quem acompanhou a série de perto, e outras que se perdem tal e qual como o argumento, o qual visa sobretudo acumular uma sequência de mini-clímaxes pouco estruturados, que aparentam servir acima de tudo… o riso do espectador, (mais do que avançar qualquer narrativa). 

É este completo sacrifício por uma unidade narrativa em prol da gargalhada fácil que me fez então questionar sobre o que é preciso de facto para uma comédia ser boa… É que em termos puramente matemáticos, “Absolutamente Fabulosas” é sim uma boa comédia capaz de ombrear com as melhores dos últimos tempos – as piadas funcionam durante a maior parte do tempo, e tal deve ser contabilizado como um sucesso. Em termos cinematográficos, no entanto, possui limitações (narrativas) óbvias que fazem com que a obra não consiga verdadeiramente sair do estatuto de matiné de domingo… 

Vê-se bem, entretém, mas se não for fã, o melhor é mesmo começar a sê-lo antes de ver o filme. 

O melhor: quociente de gargalhadas acima da média.

O pior: a ausência de uma estrutura narrativa forte.

André Gonçalves

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