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«De Palma» por André Gonçalves

Holy Mackarel!” O documentário “De Palma” não tem uma rapariga e uma arma, mas tem o realizador Brian de Palma e uma cadeira. E isso, surpreendentemente, basta para fazer um bom filme. 

Adotando uma estética muito convencional de “depoimento” (ou será terapia?) sobre uma filmografia, os realizadores Noah Baumbach (“Frances Ha [1]“) e Jake Paltrow (do clã Paltrow) deixam o seu ícone fazer o filme com as suas histórias, muitas delas desconhecidas do grande público. Como a de ter sido De Palma – e não o seu grande amigo Martin Scorsese – a usar Robert De Niro pela primeira vez. Ou como Melanie Griffith esteve quase a ser preterida por uma estrela porno no seu papel em “Body Double“… 

Vindo da escola de Hitchcock, De Palma depressa se focou na temática da identidade e do voyeurismo que é o próprio cinema. “De Palma“, o documentário, é também ele bastante convidativo a espreitar e a tentar entrar na mente de um cineasta que quase sempre recusou jogar as regras do sistema, mas precisou deste para fazer vingar as suas ideias mirabolantes. 

Como o cineasta é tão bom contador de histórias com a câmara apontada a ele como quando ele a possui, todo este compêndio audiovisual funciona. Numa retrospetiva que abarca toda a sua filmografia, há ainda espaço para falar sobre momentos mais frágeis (“A Fogueira das Vaidades“) e de dramas de estúdio e conflitos de egos. 

O menos celebrado do seu gangue de amigos que inclui Steven Spielberg, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e George Lucas consegue assim finalmente um testemunho em vídeo que honra a sua obra, e convida os seus espectadores, fãs ou meros curiosos, à sua (re)descoberta.

O melhor: De Palma, contador de histórias. 

O pior: o método convencional para contar todas estas histórias. 

André Gonçalves