Sexta-feira, 19 Abril

«11 Minutes» (11 Minutos) por André Gonçalves

Se houve algum propósito de juntar “11 Minutos“, a longa-metragem do septuagenário Jerzy Skolimowski à curta-metragem nacional “Marasmo” de Gonçalo Loureiro, é que ambas colocam a mesma questão ao espectador no final: qual foi o propósito do que acabámos de ver? 

Em “Marasmo“, o melhor que podemos dizer é que a curta cumpre a premissa do seu título, reproduzindo planos bonitos, e tentando conjeturar ali uma atmosfera minimamente interessante… mas para quê? Não há aqui muito que se consiga captar e assimilar. Temos em demonstração uma boa técnica de aluno finalista de curso que pode vir a dar que falar, mas vazia de um significado que o espectador médio consiga captar. Se não há um significado que se possa captar do que se viu, o destino normal é o esquecimento. Um autêntico marasmo cinematográfico, de facto.  

O caso de “11 Minutos” será mais fácil de defender, mas ainda assim com reservas. Poderemos dizer que se trata de um ensaio sobre o tempo numa tela manipulada, na qual o realizador incorpora as tecnologias mais recentes para nos entreter. Uma história cuja ação demora os 11 minutos do título e fazendo-a estender por quase hora e meia, com as vidas de uma meia dúzia de personagens a cruzar, e a chocar umas com as outras. 

Se a sinopse de si traz à memória outras obras (superiores), é normal. De facto, o pecado capital deste filme tão enérgico (e há aqui um espírito rebelde e confiante a salutar da parte de Skolimowski) como cansativo é precisamente não trazer nada de novo à mesa, pescando e repescando conceitos do passado, de um modo competente, sim, mas anónimo. A própria cidade de Varsóvia aqui surge sem qualquer identidade – podia ser qualquer cidade mundial.

Os defensores argumentarão que este anonimato serve de facto a universalidade da narrativa… eu simplesmente não fiquei convencido que precisássemos de mais um filme a roçar na mensagem “estamos todos ligados” (se de uma forma menos explícita que um “Crash” [de Paul Haggis] por exemplo), e uns truques de encher o olho na hora, mas que dificilmente sobreviverão à memória coletiva. Daí que o prémio para Melhor Longa-Metragem no Lisbon & Estoril Film Festival já pareça um ano depois totalmente descabido. 

O melhor: o tom rebelde e confiante da realização, que tenta compensar uma gímnica vista uma centena de vezes com um ou outro truque vistoso.  

O pior: esta brincadeira não ter propriamente um outro propósito senão o de entreter na hora o espectador.  

André Gonçalves

 

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