Sexta-feira, 19 Abril

«Comoara» (O Tesouro) por Duarte Mata

Tivesse O Tesouro de Sierra Madre sido feito na Bucareste do século XXI, num registo arthouse e o resultado final talvez não estivesse muito longe da mais recente obra do cineasta romeno Corneliu Porumboiu, O Tesouro. Ambas as obras revolvem à volta de dois homens (de feitios muito diferentes), financeiramente desfavorecidos e obcecados em encontrar riquezas em escavações pouco sensatas, aliando-se, para isso, a um homem sábio e mais velho. Porumboiu, aliás, apesar de privilegiar um estilo minimalista e bastante contido, tem tendência para filmar os conflitos do seu enredo em planos médios e gerais, um hábito feliz da Hollywood clássica que, para mal dos nossos pecados, se veio a perder.

Mas, pusemo-nos com nostalgias corriqueiras e nem falámos do melhor. O Tesouro trata-se da reconciliação entre um pai e um filho, que acusa o primeiro de não ser Robin dos Bosques, o herói mítico inglês, que, já lá diz a frase mais que gasta “roubava aos ricos para dar aos pobres”. É talvez essa a principal razão (senão a única) pela qual Costi (trata-se do nome do pai) aceita ajudar o seu vizinho na procura absurda de um tesouro no quintal do avô do mesmo. É esse enternecimento pela doçura das fábulas num tempo moderno, onde o físico dos heróis está cansado, mas os sonhos e valores tentam vir à superfície, que conduzem o filme para um final feliz, inesperado e com o seu quê de satírico (aviso à navegação, isto é uma crítica ao regime comunista que a Roménia viveu sob várias décadas).

É fácil de atacar o ritmo lento e a pouca ação que contém (um crítico do The Guardian apontava que a parte mais memorável do filme era um detetor de metais a fazer zoooWOOOOOOooooop vezes sem conta), mas, é graças também a ele que é trazido à superfície o humor que tornam o filme numa comédia de costumes morais otimista. E aqueles créditos finais ao som do cover que os Leibach fizeram do tema “Live is Life” dos Opus são das coisas mais deliciosamente parolas que vimos nos últimos tempos.

O melhor: Os valores dos heróis de fábulas na personagem Costi.

O pior: Ritmo lento e falta de enredos secundários podem provar-se hostis a muitas audiências.

Duarte Mata

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