Quinta-feira, 28 Março

«31» por Hugo Gomes

Será demência sinónimo de genialidade? Para Rob Zombie e a sua nova obra 31, está muito mais em jogo do que a simples homenagem ao cinema “nasty” e “torture” de um Massacre no Texas ou de um I Spit in Your Grave. Está sim, o embate com um estilo próprio, de “mau gosto” para alguns, mas verdadeiramente requintado para a proposta que apresenta. 
 
Um cruzamento entre Massacre no Texas e The Hunger Games, 31 centra-nos no típico “horror road trip” com demasiados “piscares de olhos” ao eterno filme de Tobe Hooper até chegar a uma delirante trip à lá Devil Rejects. Maniqueísmos estão à “borda do prato“, a refeição é crua e indigesta e é nesse tipo de espetáculo que o músico e agora realizador, Rob Zombie, concentra na sua crítica social. Até porque nós todos somos “animais“, as personagens que tentam sobreviver num sádico jogo orquestrado por aristocratas até nós, espetadores, que aceitamos a viagem imaculada dos seus acordes. 
 
A provocação é aqui facilitada, mas é nesse leque de “nasty things” que a exploração torna-se real para a audiência, tudo se resume a um circo munido por identificáveis peças, nada que não difere dos nossos habituais videojogos, das manchetes sedentas de mediatismo e do fascínio intimo de cada um pela violência. Sim, somos todos filhos da violência e Rob Zombie não é o demónio por nos mostrar isso ao longo da sua carreira enquanto realizador, porém, é o autor que mexe “cordelinhos” desse desejo proibido. 
 
A sua câmara que se desloca à velocidade da luz em alturas críticas revela-se numa poderosa aliada em território sensorial, não é todos os dias que vemos um filme de terror que nos desperta adrenalina, uma incomoda sensação de vermos tudo e ao mesmo tempo vermos absolutamente nada. Os maiores episódios de violência estão na mente do espetador, por esta altura Rob Zombie ri-se que nem um perdido perante tal feito. 
 
O único senão deste retrato é também aquela possível marca autoral do realizador, a sua mulher, Sheri Moon Zombie que nunca nos verdadeiramente convenceu. Mas tal é compensado com as participações de Judy Geeson (Violador de Rilington, de Fleischer), Meg Foster (Eles Vivem, de Carpenter) e Malcolm McDowell (Laranja Mecânica, de Kubrick), entre outros, atores que instalam-se como memórias de uma terrifica cinéfila, o “lado negro” admirado pelo próprio Zombie, proclamador do género de terror. Ah, e já me ia esquecendo, Richard Brake a citar-se como um psicopata “campónio“, transgredindo o estereotipo pelo qual é submetido. 
 
Pormenores que tornam 31 num filme que receamos em venerar, mas a confirmação de que Rob Zombie é um autor de terror, daqueles subvalorizado (tal como Eli Roth) por um cultura subjugada ao cinema de estúdio de um The Conjuring ou do enésimo remake de um clássico qualquer.  
 
O melhor – um filme sinistro vinculado à memória do terror e herege na sua abordagem crítica
 
O pior – Sheri Moon Zombie
 
Hugo Gomes
 
 

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