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«The Wailing: O Lamento» do terror que procura novas disposições

Os coreanos sempre foram assim, ambiciosos e igualmente descontraídos nas suas incursões fantásticas, e quem não se lembra de The Host, de Joon-ho Boong, esse reavivar do cinema kaiju, para dar uma ideia do que lidamos em relação a tons neste The Wailing
 
Dirigido por Hong-jin Na (The Chaser), este é uma costura de variados “trapos” que consolida o terror com os lugares do suspense policial, o humor até mesmo a um fino drama familiar, sem com isso negar a sua atmosfera de “filme-de-desastre”. A enésima história de possessão teima aqui em não persistir em linha reta, vagueando fantasmagoricamente em outras nuances e complicações argumentativas, chegamos mesmo a pensar que uma simples intriga foi deliberadamente convertida numa pesadão “mastodonte”, a jornada é cansativa e as nossas forças cinéfilas tendem em desvanecer tais como a do nosso protagonista. 
 
O herói, interpretado por Do Won Kwak, bem poderia ser uma personagem extraída de uma comédia, um policia trapalhão cujo porte físico é representado por uns quilinhos a mais, bem, uma chacota digna lá para os lados de Hollywood. Contudo, é o exemplo de heroísmo acidental, sem com isso branqueá-lo do lado negro habitual do ser humano. É na construção deste protagonista que The Wailing demarca de muitas outras produções de terror, é nos seus laivos competentes de teor que chegamos curiosamente a dar uma espreitadela a esta sombra que paira numa tradicional cidade, assombrada por espíritos florestais e receosa por superstições arcaicas.
 
Não negando o charme de The Wailing, há, no entretanto, uma infelicidade em encontrar nesta produção sul-coreana uma replicada ambição de ser um The Conjuring (aviso desde já que o filme de James Wan é aqui inserido não sob forma de elogio). É como já havia referido, a costura de vários “trapos” é também reciclado, e a reciclagem teima em ser homenagem a um cinema de género. De O Exorcista até aos terrores amaldiçoados do J-Horror, passando pelo policial feroz de Fincher e até certo ponto um side-by-side de Eu Sei o Que Fizeste no Verão Passado, é novamente a impotência de não saber o que fazer com tantos lugares-comuns. Ganhou-se um sólido filme de género, mas perdeu-se uma eventual obra-prima.