Quarta-feira, 24 Abril

«Black» (Amor em Tempos de Ódio) por André Gonçalves

Se as boas intenções contassem como arte, “Black” seria um dos objetos mais marcantes de 2016. Não contando, segue para reforçar o ditado: “de boas intenções está o inferno (cinematográfico) cheio“. 

A história de “Black” segue o modelo clássico Shakespeariano de amor proibido entre dois membros de “famílias rivais” . Neste caso concreto, temos um decalque sem canções (e sem vida) da história de “West Side Story” totalmente adaptado à realidade europeia contemporânea: um amor que nasce entre dois gangs rivais de negros e marroquinos. Ela, Mavela, uma adolescente negra, conhece um dia na esquadra Marwan, marroquino e da gang rival, e terá que optar entre a lealdade do seu grupo e o amor às escondidas que sente. 

Infelizmente, o que transparece logo na primeira bobine são as fracas ambições do projeto cinematográfico em si face à história bombástica – se clássica, e recontada várias vezes sob vários prismas –  que tem para nos contar. As personagens são superficiais, contando-nos tudo o que está em jogo via diálogos sem qualquer traço de ironia ou subtileza presentes, escarrando pedaços de diálogo risíveis com uma seriedade louvável – e talvez daí saía um “buzz” merecido para os atores Martha Canga Antonio e Aboubakr Bensaihi, que aguentam bem um filme que podia ser resumido num panfleto. A realização acompanha estes personagens num tom igualmente sóbrio e sem uma única ideia original, previsivelmente embelezando os momentos românticos entre o casal proibido, e explorando o sofrimento que está para vir (“gang bangs“) de uma forma previsivelmente exaustiva. 

Assim, mesmo pesando as melhores intenções e a uma descrição minimamente convincente da divisão social que ocorre atualmente no coração de uma Europa cada vez menos tolerante, torna-se difícil simpatizar de alguma forma com o produto final, quando há outros mais títulos desafiantes e menos previsíveis a lidar com temáticas semelhantes ao virar da esquina. 

O melhor: As intenções de fazer um “West Side Story” para a realidade contemporânea, exaltando o racismo e xenofobia existentes.

O pior: A concretização dessas intenções. 

André Gonçalves

 

Notícias