Terça-feira, 23 Abril

«Me Before You» (Viver Depois de Ti) por Hugo Gomes

A sensação que temos com este Viver Depois de Ti, é que a argumentista e escritora do romance original, Jojo Moyes, teve uma experiência e tanta ao ver o mega-êxito francês, Amigos Improváveis, ao ponto de converter a tal história bromance num romance literário. O resultado foi também um sucesso, e obviamente, os estúdios oportunistas aproveitaram a “deixa” para conceder a sua adaptação cinematográfica.

Assim temos mais uma variação “wannabe” Nicholas Spark que centra na história de uma jovem inglesa simplória (e inocente) que arranja trabalho como assistente domiciliaria de um tetraplégico, milionário e …claro, jovem charmoso. Esta relação profissional, inicialmente “azeda“, vai-se transformando num tremendo caso de amor. Todavia a nossa protagonista descobre os desejos de morte do seu “paciente“, e como tal torna-se determinada a alterar as suas ideias a fim de preservar um promissor amor.

Se existe qualquer coisa de ambicioso em tudo isto, é o debate sugerido e por vezes culminado sobre a eutanásia, mas dar crédito ao filme de Thea Sharrock pelo dito é uma pura hipocrisia. Este é um romance prazenteiro que aborda temas sob uma fantasia pueril e inconsequente, partilhada com uma visão monocromática por parte da sua personagem principal, aqui desempenhada por uma irritante Emilia Clarke. Porém, toda esta condição humana é enfatizada por Sam Claflin que se comporta como um mártir tragicamente amoroso versão galã.

Em Viver Depois de Ti, a importância da estética deste “mundo faz-de-conta” serve como dieta para um filme tecnicamente “bem-disposto“, mas demasiado corriqueiro nas sua tendências de encantar corações despedaçados e romanticamente incuráveis. Aliás, é a milésima vez que nos inserimos num universo míope e homogeneizado, onde as personagens secundárias são meros “produtos de cartão“.

Quanto a eutanásias, mortes assistidas e vidas com dignidade, ao leitor fica inúmeras outras sugestões que vai desde o Mar Adentro, com Javier Bardem numa das suas melhores prestações, o cuidado Million Dollar Baby, de Eastwood, o abismal Amour, de Michael Haneke, assim como o original Amigos Improváveis.

Quatro exemplos bem mais entusiasmantes e cinematograficamente ricos do que assistir Emilia Clarke a fugir da sua “obrigação” de “caçar dragões“.    

O melhor – Sam Claflin

O pior – a abordagem novelesca e Emilia Clarke

Hugo Gomes

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