Quarta-feira, 24 Abril

«Tallulah» por André Gonçalves

Não é fácil fazer comédia com um rapto de um bebé. Mas “Tallulah” consegue pegar em elementos à partida dissonantes e espremê-los até fazer algum sumo. Afinal de contas, a argumentista e realizadora Sian Heder chega à sua estreia nas longas-metragens vinda da escola respeitável da série “Orange is the New Black“, uma série perita em lidar com situações “fora da margem” e fazê-las pessoais.

Vindo do festival de Sundance para os “estúdios Netflix“, “Tallulah” está assim algures entre a série da prisão feminina (também da Netflix) criada por Jenji Kohan, “Tallulah” e o típico filme independente norte-americano, onde a família disfuncional é mais uma vez porta de entrada. A história de uma jovem que vive numa carrinha, deixada pelo namorado (que saiu de casa da mãe, que entretanto se está a divorciar, porque o seu marido é homossexual), e que um dia decide bater à porta da mãe deste com um bebé roubado, é mote para a exploração então de temáticas ligadas à maternidade e à realização/libertação pessoal.

É uma obra, como tantas outras ditas alternativas mas que no fundo têm a sua própria linha de montagem, ancorada por um naipe de atores capaz de traduzir estes temas e as contradições narrativas (numa certa bipolaridade que a comédia americana sempre soube pegar e distribuir). Ellen Page e Alison Janney são dotadas precisamente de qualidades capazes de tornar emoções contraditórias na mesma cena credíveis. E se é certo que há aqui uma incompletude narrativa (algumas pontas soltas na altura de mover a ação do ponto A para o ponto B), calha ser essa incompletude a dar charme e memória a este filme – nomeadamente numa resolução não tão limpinha como se esperava.

O melhor: Ellen Page e Alison Janney

O pior: Não ter traços suficientemente marcantes para se distinguir da restante linha de montagem Sundance.   

 

André Gonçalves

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