Quarta-feira, 24 Abril

«Independence Day: Resurgence» (O Dia da Independência: Nova Ameaça) por Hugo Gomes

Passemos então para a desforra! Foi um dos maiores êxitos dos anos 90 e uma sequela disto já soava uma miragem, mas é então que surge entre nós aquele que poderá ser o grande regresso de Roland Emmerich aos blockbusters de Verão, isto depois de ter falhado com abordagens mais pessoais em Stonewall e Anónimo, e no ataque à Casa Branca com Channing Tatum (o público preferiu o horrendo Olympus has Fallen). Estamos obviamente a falar de O Dia da Independência, título inesperadamente patriótico para a obra de um realizador alemão, mas como os yankees tem por hábito pronunciar – “cheesy” – o suficiente para entreter nas horas vagas. 

 
Contudo, o trabalho do crítico não é o de aconselhar quais filmes a ver ou a não ver, nem sequer avaliá-los consoante o grau de entretenimento, nesse sentido a palavra divertido é relativo, mas sim lançar o debate e idealizar o filme em questão. Sob esse signo poderemos dizer que o segundo Dia da Independência é uma “trapalhice” pegada, que mesmo assim conserva o de lúdico e ingénuo tem este tipo de blockbusters (longe dos tempos da seriedade hoje envolvida na produções “kind of like” Christopher Nolan). Agora insinuar que é um bom filme desde que se “desligue o cérebro”, é nada mais que uma desculpa esfarrapada de quase querer “vender a mãe”, mas isso são outras guerras, passemos então à guerra transposta pelo filme.
 
Como sabem, 20 anos se passaram desde a destruidora “visita” dos alienígena na Terra (sim, a sequência da Casa Branca reduzida a cinzas pode muito bem considerado um déjà vu), sendo que o Mundo é agora um espaço simbiótico, onde todos os povos dos quatros cantos do Globo vivem numa total utopia harmónica (ora quanta inocência!). A tecnologia deu um valente “pulo”, como tal, foram concebido postos de vigia intergalácticos (vá os extraterrestres “visitar” novamente o planeta), armas laser (inspiradas no armamento alienígena) e Jeff Goldblum novamente como o cientista que ninguém quer acreditar mas que deveriam apesar de tudo. 
 
E pronto, dá-se o segundo round desta invasão que já persegue o Cinema quando este dava os primeiros passos, as criaturas “from outter space” chegam à Terra com promessas de destruição elevado a dez e Roland Emmerich ostenta novamente os seus apetites apocalípticos, e para sermos sinceros, não existe pessoa indicada para destruir a Terra que ele. Contudo, todo este espetáculo é deveras corriqueiro, previsível e extremamente anorético no que requer a construir personagens, conflitos e relações, aliás o primeiro ponto é dividido entre “retornados” e estereótipos, nada mais que isso. É tudo um jogo de referências, réplicas e “brincadeiras” de CGI sob uma conduta implacável de apresentar muito em tão pouco. 
 
 
Mas o pior é mesmo a saturação dos efeitos visuais, neste momento a destruição tecnológica apresentada em O Dia da Independência: A Nova Ameaça leva-nos a temer o pior – como espetador, este tipo de truques são cada vez mais difíceis de surpreender – um mau sinal tendo em conta que as primeiras imagem de uma nave alienígena a reduzir a Casa Branca a “cacos” em 1996 causou uma tamanha euforia no publico. A culpa, talvez, não seja da produção de Emmerich, mas do facilitismo e a preguiça em reduzir-se todo a meras imagens CGI que as produções deste género tem cedido. Agora como anexo a este problema exaustivo, basta verificar a quantidade de produções que apresentar imagens de destruição de qualquer tipo de cenário (não andará uma pessoa farta!). 
 
Eis o enésimo atentado à Terra por Emmerich, que apenas ganha com a sua valente ironia autorreferencial (por pouco não destruiu novamente a tão famosa habitação presidencial), e o facto de ser um blockbuster que tem a perfeita noção daquilo que é, e não mais um “bigger than life” que a Marvel e companhia parece submeter-mos. Para terminar fica a frase do ano, proclamada pelo nosso velho Goldblum, que refere aos ditos E.Ts: “Eles adoram monumentos”.
 
Hugo Gomes
 

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