Terça-feira, 16 Abril

«The Conjuring 2» (A Evocação 2) por Hugo Gomes

Por estas alturas, James Wan goza de um implacável estatuto! Deu nas vistas em 2004 com o exercício de serial killers que originou um dos mais rentáveis franchises do género do terror, Saw, até chegar a todo um conjunto de obras de baixo-orçamento que garantiram sucessos instantâneos (sem falar da sua contribuição no cinema blockbuster como em Furious 7 e Aquaman, este último ainda a ser preparado). 
 
O realizador malaio é atualmente um dos braços fortes desse “império” low cost do produtor Jason Blum (cada vez mais visto como um Roger Corman da nova geração), mas é inegável o toque que atribui a este conjunto de “produtos“, transformando ideias recicladas em matéria (pseudo)refrescante para ávidos apreciadores do cinema de terror.
 
Esta sequela do seu maior êxito de bilheteira, The Conjuring (com o orçamento de 20 milhões de dólares, rendeu mais de 300 milhões em todo o Mundo), é a prova viva desse veio “artístico” que Wan injeta (a sua ausência, por sua vez, foi catastrófica no terceiro capítulo de Insidious) em terreno extremamente maleável. Infelizmente, o realizador preferiu-se vincar no seu guia “old school“, apresentando ao espetador os mais velhinhos truques do livro, uns com resultados satisfatórios e outros … nem por isso. 
 
Arrancando com uma ida e volta à célebre mansão de Amityville (o caso de investigação mais famoso do casal Warren), The Conjuring 2 avança como uma auto-referência do cinema de Wan, neste caso Insidious é estampado no inicio deste “take“. Aí desenvolve os primeiros jump scares, com direito a monstruosos fantasmas e ameaças proclamadas que iremos seguir mais tarde (basta verificar a fórmula do primeiro filme para apercebemos como a “coisa” irá desenrolar). Depois desse inicio acelerado, com os Warrens (interpretados novamente por Vera Farmiga e Patrick Wilson) a serem puxados para segundo plano, seguimos para Inglaterra onde uma família é assombrada por um poltergeist “traquinas”. 
 
 
Trata-se do caso Enfield, o mais documentada da História da sobrenaturalidade, que acabou por revelar-se numa farsa. Porém, The Conjuring 2 o visualiza como um caso de crença, onde o espetador mais informado sobre o sucedido terá que “fingir” que tudo não passa de uma possessão demoníaca de “colossal” tamanho. Tal como foram acusados o verdadeiro casal Warren, igualmente Wan traz um exagero a toda esta “assombração“, como tal basta comparar a entrevista televisiva da BBC feita a uma das crianças perturbada por estes fenómenos paranormais e a encenação fictícia neste filme. 
 
Obviamente que todo aquele argumento de que “isto não é mais que um filme” é uma cartada neste embate entre ficção e factos reais, porém, esse dito exagero cinematográfico que Wan traz a Enfield Poltergeist é rodeado pelos maiores clichés do género; as luzes descontroladas, as ameaçadas vindas de uma outra dimensão, os reflexos, a manipulação da sonoplastia, as crianças demoníacas e os artefactos infantis que de alguma forma servem de “ponte” entre vivos e os supostos mortos.
 
Mas não é por isso que a viagem faz-se de maneira menos agradável, o que acaba por “desgraçar” toda esta pintura é um último ato, vulgarizado e estupidificado por um twist forçado, que de maneira alguma tem significado no percurso percorrido até então. De certa forma, este The Conjuring 2 está mais próximo ao anterior Poltergeist, de Tobe Hooper, o qual ambos apostam num climax mirabolante e demasiado vistoso para a sua condição de filme de “assombração”
 
Provavelmente, James Wan ainda estava a pensar no seu Velocidade Furiosa, esquecendo de desacelerar a narrativa deste exercício de terror de estúdio. Confirma-se, bastante inferior ao seu antecessor.
 
 
 Hugo Gomes
 

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