O veterano e não tão certo realizador Jean-Paul Rappeneau (Cyrano de Bergerac) aposta numa comédia burguesa com todos os lugares-comuns de que temos direito neste género, incluindo uma subliminar dominação nacionalista – já lá iremos.

Em Belles Familles (Que Famílias!) somos apresentados a Jérôme Varenne, um bem-sucedido financer francês radicado em Xangai, que regressa à sua terra natal com o objetivo de dar a conhecer à sua mãe a noiva chinesa que é também a sua sócia empresarial. Contudo, esta visita relâmpago é atormentada por fantasmas do passado e assuntos ainda por resolver… Jérôme, face à iminente destruição do património familiar – a herdade que o vira nascer – decide intervir e meter um “arrêter” a uma corrupção que tem abalado essas memórias reminiscentes. Durante essas andanças, o nosso protagonista (re)encontra uma miúda do seu passado, Louise Deffe, que, apesar de estar comprometida com o seu melhor amigo, não deixa de ser uma irresistível aposta amorosa.

Através desta premissa, são fáceis de identificar os clichés que nos esperam em mais uma enésima comédia romântica para “francês ver“, com claras sugestões de “lutas entre classes” (obviamente!) e desempenhos que não fogem aos egos dos respetivos atores. Não estamos com isto a insinuar que Belles Familles é no seu todo uma “obra” do quinto dos infernos, mas salientamos que o apresentado é batido, previsível, sem surpresas algumas nem alma que possa destacar este filme dos milésimos produzidos todos os anos por “anónimos franceses“.

Sim, porque o grande pesar é que o nome surgido nos créditos, mais concretamente no lugar do realizador, atribuiria um melhor apreço de material e um respeito pelo espectador cansado com o panorama atual do Cinema (já nem estamos a mencionar Hollywood). Por fim, vemos o nosso protagonista, interpretado por Mathieu Amalric, a “largar” a rapariga pelo qual se comprometeu a uma relação séria, que por acaso é uma chinesa (Gemma Chan), por um amor tradicionalmente francês (Marine Vatch, Jovem e Bela) que conheceu somente num dia. O filme acaba por compensar a “leftover” com um personagem caído do céu da sua igual etnia.

Estranho, hein? Um país que soube atribuir a Palma de Ouro ao muito ofensivo drama de refugiados que é Dheepan, de Jacques Audiard, ainda não sabe fugir ao seu nacionalismo paternalista em meras comédias românticas.