Se a primeira versão “artificial” de Alice no País das Maravilhas não fascinou de todo, apesar do sucesso comercial, este segundo filme, que requisitou somente o título de outro livro de Lewis Carroll, é uma autêntica “trapalhada” estrutural. Agora sem Tim Burton e com James Bobin, o mesmo realizador das duas longas-metragens dos Os Marretas, Alice do Outro Lado do Espelho arranca com uma Alice (Mia Wasikowska) emancipadora, mulher brava e maruja que faz corar qualquer “gentleman” do Império Britânico.

Depois de um gosto a “Marco Polo” (só um gostinho), a nossa protagonista encontra-se novamente forçada “a qualquer coisa“, o resultado é uma ida ao Outro Lado do Espelho e um regresso ao tão batido País das Maravilhas para salvar um velho amigo. Com viagens no tempo à mistura e os mesmos vilões de sempre, este é uma filme de teor fantástico que nunca usufrui dessa mesma camada. Demasiado dependente dos efeitos especiais que servem de farinha para uma fraca composição de ingredientes, como um inexistente senso de aventura, personagens de uma descartabilidade vergonhosa e um argumento, apesar das suas luzes, tão previsível como uma grelha televisiva domingueira. Neste boom de cores e pirotecnia, apenas Sacha Baron Cohen é levado a sério numa personagem caricata.

O resto é pura e simplesmente “mais do mesmo“, sem a graça, sem a ousadia do conto original (há quem ainda confunda o livro de Alice no País das Maravilhas como uma proposta infantil, esquecendo das suas raízes alusivas), nem sequer a frescura de outrora. Eis uma sequela desnecessária, que ficará marcada num futuro próximo como a última contribuição do ator Alan Rickman.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
alice-through-the-looking-glass-alice-do-outro-lado-do-espelho-por-hugo-gomesPara quando uma adaptação "menos infantil" de Lewis Carroll?