Sexta-feira, 29 Março

«Une famille à louer» (Aluga-se Família) por Jorge Pereira

Depois do intenso Marie Heurtin (por cá A Linguagem do Coração), Jean-Pierre Améris regressa a um terreno que não é propriamente o seu, o da comédia romântica, mas no qual conseguiu resultados satisfatórios com Românticos Anónimos (Les émotifs anonymes), o qual era, tal como este Aluga-se Família (Une famille à louer), protagonizado por Benoît Poelvoorde. Améris é, aliás, um dos cineastas franceses que mais varia no tom e no género de filmes que aborda, bastando lembrar Mauvaises fréquentations e L’homme qui rit, duas obras bem distintas.

Neste Aluga-se Família, Paul-André Delalande (Poelvoorde) é um homem rico e solitário que vive rodeado de luxo. Apesar disso, é profundamente infeliz pois nunca concretizou o sonho de constituir família. Quando um dia, ao ver o noticiário, conhece a história de Violette Mandini (Virginie Efira), uma mulher em desespero que se transforma numa espécie de mãe coragem ao ser apanhada a roubar num supermercado, Delalande propõe-lhe que vivam como uma família e, em troca, ele paga-lhe todas as dívidas.

Esta história de alugar-se alguém não é nova – basta lembrar como Patrick Dempsey, há quase trinta anos, aproveitou as necessidades económicas de uma jovem e “alugou uma namorada” para se tornar popular. Neste caso, estamos perante a típica comédia familiar com toques sociais e de choque de costumes com os clichés habituais do género – em especial do cinema francês – a sobressaírem: os pobres são desarrumados, vulgares, mas cheios de alegria e vida; os ricos são distintos, ecléticos e extremamente aborrecidos e sistémicos.

Os dois mundos colidem de forma esquemática, com o estilo de vida da mulher a sobrepor-se à do homem inicialmente mas, posteriormente, ocorrendo uma reacção e a transformação do «domínio». De certa maneira, esta espécie de Amigos Improváveis virados do avesso e com contornos românticos apenas reverte uma fórmula, ou antes, dá um toque de Românticos Anónimos a Pretty Woman- Um Sonho de Mulher. A prestação de Efira, aliás, é comparável ao da atriz norte-americana Julia Roberts, não só nesse filme romântico dos anos 90 como também no drama Erin Brockovich, misturando vulgaridade e charme num único timbre. Por isso mesmo, Aluga-se Família torna-se por si só extremamente previsível, embora não perca por completo o seu encanto devido às atuações de Poelvoorde e Efira, num primeiro plano, e das crianças (uns pirralhos amorosos) e de um mordomo pitoresco (François Morel) num segundo momento. No todo, funciona de forma demasiado batida e artificial para conseguir chegar ao público com alguma frescura.

O Melhor: Os atores
O Pior: Esquemático e previsível


Jorge Pereira

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