Mesmo após a sua “morte”, a luz de uma estrela continua visível no céu durante vários anos, provavelmente aquilo que vemos num horizonte estrelado é nada mais que as presenças de astros desaparecidos, ilusões e alusões de uma anterior presença. Sob essa essência, Guiseppe Tornatore concebe A Correspondência, um melodrama onde os fantasmas vagueiam nas declarações de amor. No sentido em que as personagens estão de certa forma ligadas à astrofísica, o enredo segue um adultério mantido anos-a-fio que é interrompido pela tragédia. O professor Ed Phoerum (Jeremy Irons) falece em consequência de uma doença, deixando em desgosto a sua amante e ex-aluna, Amy (Olga Kurylenko). Mas o professor havia preparado tudo antes da sua morte, pronunciando a saudade que poderia culminar nos seus entes queridos, e antecipando todo um conjunto de correspondência, videos e presentes para a sua amada.

Depois dos êxitos internacionais de Cinema Paraíso e do elogiado A Desconhecida, Giuseppe Tornatore parece ter-se reduzido ao autêntico “crowd pleaser“, mas até mesmo nesse estatuto existirão resultados bem mais entusiasmantes; quem não se lembra do anterior A Melhor Oferta, com Geoffrey Rush a emancipar-se do seu afeto aos quadros de mulheres solitárias. Contudo, neste caso, o ensaio é completamente irreconhecível. Tornatore reduz-se a um mero ensaio melodramático apenas com “truques baratos” do romance. Aliás, existe aqui algo mais dos “escritos” de Nicholas Spark e de Cecelia Ahern, do que propriamente do realizador. Os atores parecem reconhecer isso, sendo que os requisitos mínimos são apenas necessitados. Olga Kurylenko engana-nos perfeitamente com o seu overacting (não temos aqui nenhuma “Amazing” Amy) e Jeremy Irons está mais que ausente, intrinsecamente falando.

Todo este registo alastra-se e alastra-se até a intriga torna-se inverosímil. Este estatuto de incredibilidade atribui um tom trágico, exageradamente trágico, que nos faz focar neste casal, agora repartido pelo destino, do que propriamente na conduta que um retrato sobre a perda poderia culminar. As estrelas não estavam do lado de Tornatore desta vez, limitando-se a ser “barato” e sem qualquer tipo de mestria nem afeto pelas personagens que apresenta.