Sexta-feira, 26 Abril

«Aqui, em Lisboa» por Jorge Pereira

Estávamos em abril de 2015 quando um cinema São Jorge completamente lotado recebeu a estreia mundial de Aqui, em Lisboa, um projeto desenvolvido e promovido pelo IndieLisboa que apresentava quatro cineastas e quatro visões – entre a ficção e o documentário – da capital.

Nesta espécie de formato mais marginal (ou hipster) que meloso dos postais turísticos Rio, Eu Te Amo (ou Paris, Eu Te Amo), Aqui, em Lisboa tenta focar-se essencialmente nas personagens que povoam o ecrã. Ao olhar mais minimalista, sóbrio e pessoal do segmento de Dominga Sotomayor, Côté responde com um trabalho documental e onde a música dos RED trio se funde com as vivências das personagens solitárias que acompanhamos. Em comum, ambos parecem pouco desenvolvidos, revelando-se melancolicamente entediantes e definitivamente insossos.

Já Losier escolhe uma visão mais artística, exuberante e bela, apresentando um olhar construído e centrado na performance de Deborah Krystall, estrela maior do travestismo. A presença no elenco de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata são notórias, estando sempre presente a riqueza imagética muito própria que marca o trabalho da autora, ela que – como Sotomayor – já fora premiada no IndieLisboa.

Resta então falar de Freud und friends, de Gabriel Abrantes, um habitué na programação do IndieLisboa (Visionary Iraq, A History of Mutual Respect, Palácios de Pena). Abrantes criou uma ficção científica futurista onde uma neurocientista utiliza o próprio namorado como cobaia para entrar no mundo dos sonhos. Todo este trabalho está imaginado como um falso programa de TV, não faltando mesmo alguns trailers e anúncios falsos pelo meio, a maioria dos quais provocaram as maiores gargalhadas da noite.

Tecnicamente muito curioso, sempre ambicioso e naturalmente provocador (fala-se da austeridade, parodia-se Woody Allen), Freud und friends certamente ficará na retina e mente de todos, até porque serve perfeitamente para mostrar uma irreverência criativa que desde sempre caracterizou o festival e o próprio Abrantes.

Por isso, e no todo, Aqui, em Lisboa acaba por ser um projeto bem intencionado, mas extremamente desnivelado e derradeiramente insatisfatório como um todo.

O Melhor: A irreverência e humor de Gabriel Abrantes no segmento Freud und friends, de longe o mais inspirado
O Pior: Extremamente desnivelado


Jorge Pereira

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