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«Time Out of Mind» (Viver à Margem) por André Gonçalves

Richard Gere, o eterno galã, está desgastado e despido de qualquer traço de vaidade como raramente (se alguma vez!) o vimos neste “Viver à Margem“, para que não haja quaisquer dúvidas. O filme, esse deambula com o ator/personagem pelas ruas de Nova Iorque, um sem-abrigo em busca de redenção e de fazer as pazes com a sua filha.

O realizador Oren Moverman (“O Mensageiro“) coloca-nos como “voyeurs” desta viagem, oferecendo aqui muitos planos de conjunto (por vezes pondo até uma janela pelo meio, a separar as personagens da objectiva). Deste modo, coloca o protagonista mais longe do que é suposto, como se ele próprio fosse um secundário no seu próprio filme. É uma opção sem dúvida inteligente, e curiosa de se seguir ao longo do tempo – e juntamente com o empenho de Gere, justificam por si só o visionamento da película. 

Porém, não há planos, nem ator, nem figurantes de luxo que nos façam aguentar duas horas à deriva sem nos sentirmos por sua vez esgotados com o que vemos, com uma narrativa que anda às voltas para não ir a lado nenhum – claro que esta será muito provavelmente a reação principal que o realizador pretendia com esta obra. Mas que fique o aviso: isto não é Hollywood, ou até mesmo Sundance. Estamos perante uma realidade crua e que não oferece grandes “rodriguinhos” e resoluções. Com isso em mente, pode ser que o espectador mais desprendido encontre aqui uma agradável surpresa. 

O melhor: Richard Gere e as opções de enquadramento de câmara

O pior: o esgotamento crescente da paciência do espectador perante tanta deambulação, por mais realista que seja. 

 

André Gonçalves