Quinta-feira, 25 Abril

«La Loi du Marché» (A Lei do Mercado) por André Gonçalves

Sendo um oposto espiritual ao tão bem sucedido (e enjoativo na sua demonstração) “A Queda de Wall Street“, “A Lei do Mercado” fala-nos do “proletariado” que efetivamente sofreu os efeitos da crise internacional de 2008. 

Neste filme, a montagem bonitinha é mínima. O objetivo é ser o mais naturalista possível, e fora o excelente Vincent Lindon (prémio merecídissimo em Cannes e nos Cesar para Melhor Ator), todos os restantes atores são meros desconhecidos. 

Ao longo de uma série de longos planos, acompanhamos o que acontece a um desempregado de 51 anos, passando por várias etapas do seu dia a dia: das suas visitas ao banco e ao centro de emprego à sua vida familiar (nomeadamente com a sua mulher e o seu filho deficiente), passando por entrevistas verdadeiramente confrangedoras – uma via skype, outra presencial em grupo, até ao momento de quebra final, onde o protagonista e o espectador ficam ambos fartos da situação que assistem. 

Não é um mecanismo propriamente inovador, mesmo dentro do cinema francófono, um cinema com um forte historial do chamado “realismo social“. Nas últimas décadas, o ponto de referência mais óbvio é o cinema dos irmãos Dardenne que fartou-se de mostrar (e fartou-me eventualmente com) esta mecânica de “realismo social“. Ainda assim, o filme de Stéphane Brizé funciona bem como reflexo dos tempos modernos, pois evita o panfletismo extremista e a exploração da desgraça alheia.

E porque sim, Lindon, enigmático mas capaz de comunicar com o público todas as suas “expressões faciais” e “linguagem corporal” (aproveitando para referenciar o que acontece ali a meio num dos momentos mais desconcertantes e capazes de gerar alguns dos muitos risos nervosos gerados aqui), está lá para aguentar todos os golpes até não dar mais, e para nos fazer cúmplices nesta trama, e consequentemente cúmplices de toda a situação atual mercantil, enquanto meros empregados da máquina.

É esta atualidade e universalidade da história, aliada a uma das performances mais marcantes do ano, que tornam “A Lei do Mercado” tão difícil de dispensar. 

O melhor: Vincent Lindon e a atualidade e universalidade da história

O pior: esta recusa da montagem cinematográfica, “irrealista”, na colagem das suas peças individualmente fortes, torna o filme um pouco pesado, e a um golpe ou dois do verdadeiro K.O. 

André Gonçalves

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