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«O Lugar que Ocupas» por João Miranda

A morte anunciada do Teatro foi sempre exagerada: com uma história tão longa e uma necessidade de recursos limitada, mais rapidamente morreriam meios como a televisão e o cinema do que o Teatro. Mas o teatro profissional tem agonizado nesta cultura neoliberal em que o único motivo de investimento é o lucro possível. É com este cenário, usando destruição de um dos teatros do Parque Mayer, que O Lugar que Ocupas, uma espécie de documentário sobre o Teatro e o trabalho de actor, se desenrola. “Uma espécie” porque dá ideia de não querer ser só um documentário, com uma voz off lírica e uma escolha e montagem de cenas que parecem querer mais provocar do que documentar. Entrecruzando a destruição do teatro com cenas de animais no Jardim Zoológico e cenas de actores em tempos de espera (antes de entrar em cena, a prepararem-se, etc.), Pedro Filipe Marques procura levar-nos a refletir sobre a cultura e a política cultural que temos.

Com quase três horas de duração, muitas são as dúvidas que se levantam quanto à seleção de imagens que nos são apresentadas. Qual o papel dos animais que nos são apresentados em várias cenas? Parece haver uma chave que faz sentido para quem faz parte da produção, mas que não é acessível a quem está de fora. A não ser que esteja a comparar o trabalho dos atores ao dos animais no Jardim Zoológico, mas parece-me que isso é contrariado pelas outras cenas em que parece defendê-los. Pior, há uma torrente de vozes que nos levam a crer que a maior parte dos actores só parece inteligente porque não é seu o texto que normalmente os vemos a debitar (há coisas que são ditas em privado que nem sempre são tão bem pensadas e que não devem sair desse ambiente, correndo-se o risco de fazer quem as diz parecer tonto).

Talvez a resposta esteja na sessão que vi: cheia de atores e participantes no filme, todos eles se riam muito de piadas que nem sempre eram óbvias e se divertiram muito mais do que as outras pessoas. Talvez este filme não seja mesmo um documentário, mas algo diferente: um filme que não pretende documentar nada a ninguém que não seja já iniciado, mas construir uma comunidade que consegue assim, ao mesmo tempo, construir-se e vitimizar-se.

O Melhor: O humor.
O Pior: A falta de coesão.


João Miranda