No bairro de classe média alta da Tijuca, no Rio de Janeiro, uma série de homicídios aterroriza os adolescentes de uma escola. Aos factos incompletos juntam-se várias especulações, a curiosidade e o fascínio mórbido, continuando, ainda assim, a vida e a descoberta juvenil a desenrolar-se de forma interrompida. Com o progredir do filme, a ausência de qualquer adulto e de investigação policial parece apontar para algo diferente.
Crescer pode ser assustador e mesmo vivido como uma espécie de morte. Ao criar este falso slasher, Anita Rocha da Silveira consegue focar-se neste período da vida, sem ridicularizar estes medos e os conflitos. Com o formato adoptado, várias são as interpretações que se podem fazer sobre o que se vê, sem haver uma que seja oferecida pela realizadora. Assim, este pode ser visto como um possível retrato da adolescência moderna, com toda a parafernália tecnológica associada, mas essencialmente focado nas relações pessoais.
Se há algum defeito a apresentar é o contraste entre o formato escolhido e o estilo visual que nem sempre o consegue acompanhar ou nega-o completamente. Isto é, porque, na realidade, não é mesmo de um filme de terror que se trata, mas de algo diferente. Porém, este contraste nem sempre consegue ser resolvido de forma satisfatória e o terror acaba por ser reduzido, ou mesmo anulado. Nem as imagens mais fantásticas / gory que surgem acabam por conseguir provocar esse temor.
Outra crítica possível é a do privilégio e do excesso de especificidade local. A adolescência apresentada é a de uma classe privilegiada sem grandes preocupações económicas (mesmo que os pais estejam sempre ausentes) e isso poderá dizer pouco a quem não faça parte dessa classe, cujos temores e preocupações são outros. Por outro lado, a influência das correntes evangelistas e outros elementos semelhantes não se traduzem tão bem para quem está deste lado do oceano, onde (ainda!) não se sente dessa maneira.
O Melhor: A ideia.
O Pior: O contraste entre o formato escolhido e a imagem.
João Miranda