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«Desde Allá» (À Distância) por João Miranda

Armando é um técnico de próteses dentárias que percorre as ruas de Caracas à procura de jovens que se dispam para si, sem qualquer procura de proximidade, física ou emocional. Quando conhece Elder, um pequeno criminoso, tudo se parece transformar de forma violenta e inesperada. Apesar de este ser o primeiro filme do realizador Lorenzo Vigas, este filme já foi feito várias vezes, parecendo ser o subproduto de anos de ditaduras violentas na América do Sul, já que não se circunscreve à Venezuela: a diferença de classe como fonte de conflito, a masculinidade em crise, a violência que rebenta sem grande propósito ou motivo. Estes elementos não são, só por si, maus, mas a forma como Vigas os explora em Desde Allá é muito pouco original e não traz nada de novo ou interessante.

O uso constante de elipses, onde muitos dos momentos que faltam são essenciais e difíceis de aceitar sem qualquer explicação (acordar na cama de alguém se assaltou e não haver qualquer conflito ou resolução é só aceitável para quem fez o filme), associado ao silêncio quase constante e às conversas sem sentido (essencialmente por causa dessas mesmas elipses não resolvidas), tornam esta uma história muito difícil de engolir. A maior parte das cenas acontece apenas por vontade do realizador, que é também o argumentista. Sim, podemos desdobrar as várias referências e influências do filme e projetá-las para vários expoentes da história do cinema, mas isso não o vai trazer para o mesmo patamar destas e o filme acaba por sofrer com isso, já que nos lembra de outros muito melhores.

Igualmente sem originalidade ou interesse é a imagem e a câmara. Apagada, com um excesso constante de luz e uma profundidade de campo sempre reduzida, a imagem reproduz o horizonte emocional do filme: monotónico e aborrecido. Mesmo os momentos que deveriam ser mais intensos acabam por não resultar, apesar do esforço monumental do novato Luis Silva, no papel de Elder. A câmara coloca-se e desloca-se sem grande sentido, parecendo mais interessada em chamar atenção a si própria e à sua canhestrice do que em servir a história e as personagens.

Se não se pode dizer que Desde Allá é um filme mau, infelizmente também não se pode dizer que é bom. Limitado e carregado de clichés, não consegue nunca libertar-se das comparações com filmes melhores, nem encontrar algo novo para dizer. Tendo em conta os temas todos que aborda, uma oportunidade perdida.


João Miranda