Sexta-feira, 29 Março

«The Huntsman: Winter’s War» (O Caçador e a Rainha do Gelo) por Hugo Gomes

Dizem as más línguas que as obrigações contratuais levaram a grande parte do elenco residir neste pseudo-épico que serve de prequela e sequela a um dos maiores desperdícios do cinema fantástico recente.

Passaram-se quatro anos desde A Branca de Neve e o Caçador, filme onde supostamente Rupert Sanders reiventou o tão amado conto dos irmãos Grimm, transformando-o num blockbuster reluzente para as mesmas audiências de Twilight. Dos trunfos conseguidos, apenas uns valiosos 300 milhões de dólares e uma prestação mais que esforçada por parte de Charlize Theron. O resto caiu para o esquecimento.

Nesta extensão (chamaremos assim a este produto), Kristen Stewart demonstrou sensatez e deu de “frosques”, agora mais interessada em conquistar Césares e abrilhantar uma carreira marcada por produções juvenis. Mas nem todos tiveram “cabeça”. Chris Hemsworth continua, neste caso a tentar erguer um filme em fase de descongelamento. Novamente como o Caçador do título, o espectador segue a sua jornada por entre terras distantes em busca do Espelho Mágico, que desaparecera e deixara a muito “divinal” Branca de Neve louca. Pelo caminho descobrimos uma elite de guerreiros, do qual o nosso protagonista fazia parte, dois dos setes anões (peço desculpa, oito, visto que a Disney detém os direitos dos sete), que porventura acompanham esta jornada tudo menos épica, e ainda a fusão com a Rainha do Gelo de Hans Christian Andersen (em jeito de aproveitar o sucesso de Frozen).

Ou seja, O Caçador e a Rainha do Gelo é uma autêntica salada russa que não ostenta fascinação pelo seu próprio trabalho, muito menos pela narrativa e pelas personagens. O visual não engana, a automatização tomou conta da fita, os atores convocam os mínimos para as suas representações e os “buracos de argumento” são evidentemente prejudiciais.

A tendência poderia ser bem pior não fosse o aparecimento de Charlize Theron a certa altura. A atriz comporta-se como a santa padroeira e como uma mártir salva-nos do terrível tédio. Sim, tal como o antecessor, ela continua como o único raio de luz numa produção tão enublada como esta. Cinema pipoca, dirão alguns, falta de ideias e de estruturas narrativas dirão outros. No meu entender, é simplesmente pior do mesmo.

O melhor – Charlize Theron
O pior – a automatização de um produto que não tem razão de existência


Hugo Gomes

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