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«Quo Vado Ou Já Foste!» por Duarte Mata

Desde o começo da Festa do Cinema Italiano que Quo Vado? era apontado como um destaque forte da programação, em boa parte devido ao sucesso astronómico em Itália, onde se tornou o filme italiano mais rentável de sempre, ultrapassando mesmo as receitas no mesmo país de obras como o último episódio de Guerra das Estrelas. Sucesso merecido, Quo Vado? é uma comédia popular sem ser vulgar, onde um conjunto de episódios anedóticos mostram um até aqui desconhecido Checco Zalone em estado de graça, que consegue acarretar ao longo de hora e meia de filme uma comédia fácil de simpatizar e com a sua relevância socioeconómica para os tempos correntes.

Zalone é funcionário público que vive agarrado aos seus pais e aprecia a comodidade de uma vida profissional pouco árdua e ociosa, fugindo de ideais como a independência financeira ou o matrimónio como do diabo da cruz. De repente, o governo opta por fazer reformas e cortes de pessoal, colocando Zalone num dilema: ou demite-se ou aceita ser transferido para longe dos confortos de que nunca abdicou no… Pólo Norte.

Quo Vado?, ao contrário de algum do lamentável cinema francês do mesmo género que por cá tem estreado nos últimos anos (com o excruciante e verdadeiramente aborrecido Que Mal Fiz eu a Deus? à cabeça) não se resume a uma repetição monótona de cenas sob a mesma fórmula, diversificando os episódios pela quantidade de situações (os flashbacks da infância são uma delícia), espaços (do coração das trevas africano aos glaciais terrenos noruegueses) ou tópicos universais abordados (a crise económica, é certo, mas também o multiculturalismo) conseguindo extrair delas o humor de uma forma subtil e nunca forçada. Mas há também o lado oposto onde, por vezes, sente-se um certo peso nas referências italianas que não são familiares ao espetador comum. Fora isso e um eventual trabalho de realização pouco elaborado, embora muito conveniente ao seu protagonista, será um prazer ver uma distribuidora portuguesa dar a chance ao carisma do seu ator e um argumento prestável que fazem o filme quase todo. Sem esquecer a banda sonora que, de Celine Dion ao Tornerò dos I Santo California é boa demais.

O melhor: Checco Zalone, humorista por excelência.
O pior: Referências italianas que podem passar ao lado do espectador comum.


Duarte Mata