Sexta-feira, 26 Abril

«The Jungle Book» (O Livro da Selva) por Hugo Gomes

 

Passaram 122 anos desde a primeira publicação do clássico literário – O Livro da Selva – um conto escrito por Rudyard Kipling que unia o folclore das crianças selvagens com um cenário de animais antropomórficos, onde cada espécie incutia ocultas motivações políticas. Foi considerado o pai das “histórias curtas” direcionadas aos mais novos, contudo, nos dias de hoje é relembrado graças à famosa adaptação animada da Walt Disney, em 1967.

O resto das conversões cinematográficas foram tudo menos memoráveis, sendo esse popular filme a inspiração primária deste portento visual que a Disney orgulha-se em apresentar sob um método de apropriação cultural. Visto como um novo “Avatar“, devido à credibilidade dos seus efeitos visuais, a reconstituição de uma selva virgem e de animais que nos fazem questionar constantemente a sua “artificialidade”, assim como a interação simbiótica entre o jovem ator, Neel Sethi, com os seus comparsas digitais, evidenciam e tiram as teimas de que vivemos numa época onde qualquer “sonho” é possível de ser reproduzido – e que a tecnologia apresenta uma infinidade de efeitos e possibilidades. Sim, este O Livro da Selva, de Jon Favreau, é um portento visual e sonoro, e nisso esta nova “visão” do conto é um triunfo.

Agora, o verdadeiro problema disto é a própria insinuação da Disney em colocar a sua marca na adaptação, seguindo mais uma ligação direta à animação de 1967 do que propriamente aos escritos de Kipling. Uma dessas provas da associação forçada é a inserção das populares músicas que ditaram o anterior êxito da Disney. Ouvir “The Bare Necessities“, cantado por Bill Murray, ou “I Wanna Be Like You“, sob um estilo gangster por Christopher Walken, são nostalgias para quem cuja infância foi ditada pela Disney.

Mas é aqui que “rende o peixe”, até porque as audiências mais novas confrontarão os seus progenitores quanto à origem da história, sendo que muitos destes apontarão a referida animação, esquecendo-se por completo da verdadeira matéria-prima. Isto chama-se qualquer coisa como “The Disney way“, invocando memórias e preservando estéticas para rentabilizar os seus mais recentes produtos, assim como fez com os irrelevantes Maléfica e Cinderela. É tudo uma questão de marketing.

Todavia, existem sequências bem sucedidas que tão bom uso fazem da tecnologia em conformidade com o trabalho “quase invisível” dos atores, entre os quais a utilização da voz de Scarlett Johansson no “arrepiante” aparecimento de Kaa, a jibóia que todos conhecem por tentar devorar o nosso “menino-lobo”.


Hugo Gomes 

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