Sexta-feira, 29 Março

«Il Nome del Figlio» por Hugo Gomes

O enredo de Il Nome del Figlio é um efeito dominó que adquire o seu tom de grotesco quando avança na calamidade do “mal entendido”, e como uma noite passada entre amigos pode-se tornar num turbilhão de revelações e de emoções escondidas. Adaptado da peça de Mathieu Delaporte e Alexandre de La Patelliére, este é um tipo de filme que dificilmente consegue deserdar as suas raízes teatrais em conformidade com uma linguagem distantemente televisiva.

Nesse aspeto, aqui a experiência pode causar um sentimento de repugna, visto que as personagens dificilmente deslocam da sua caricatura e a intriga, que apostava ser divertida, não é credível na sua própria mentira. Se a simpatia não encontra aqui o lar, Il Nome del Figlio desfere ainda um autêntico golpe no espectador após serem levantadas questões, por si só acidamente hilariantes, mas desfeitas como “petas” narrativas. Falo obviamente do título – O Nome do Filho – que desperta uma adversão reacionária na civilização moderna, os residentes de um mundo onde cada palavra é imperativamente associada a eventos ou personalidades.

Neste caso, a “confusão” começa com o substantivo Benito, automaticamente ligado ao fascista Benito Mussolini, uma palavra que invoca e acende uma discussão que vai para além do politicamente correto e da limitação desse meio, neste caso a associação de temas que qualquer vocabulário parece adquirir de forma politica e social. Talvez seja uma questão de suscetibilidade, mas é fácil de imaginar este argumento transposto para território alemão, com Benito substituído por Adolfo, ou até mesmo português, como Salazar.

Todavia, o debate é apenas uma desculpa esfarrapada para incidir o caos nesta comédia tecnicamente deslavada, rodeada de personagens inanimadas que por sua vez são guiadas por uma narrativa constantemente “esfaqueada” por flashbacks inúteis, cujo único propósito é retratar o espectador como um acéfalo sem noção alguma de história. Para além de ser de uma visualização aborrecida, este é o tipo de “cinema” populista que em Portugal traduzia-se a algo como Leonel Vieira e os seus respetivos “atentados”.

O melhor – O tema sugerido … repito, sugerido
O pior – desde a sua estrutura à sua conceção


Hugo Gomes

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