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«Asino Vola» (Donkey Flies) por Duarte Mata

A secção competitiva da 9ª edição da Festa do Cinema Italiano começou amornada com este Asino Vola (Donkey Flies), primeira obra de Marcello Fonte e Paolo Tripodi. Embora haja demonstrações da criatividade dos seus autores no primeiro ato, onde animais falantes da infância do protagonista, Maurizio, reaparecem e balões de banda desenhada são usados como complemento da ação, o duo de cineastas não se mostra capaz de suster essa originalidade, preferindo uma encenação facilitada, pouco viva e sem impacto.

Marcello Fonte tem o gesto narcisista de representar quatro personagens (conceito que já não nos parece novidade desde os tempos remotos de Peter Sellers ou Alec Guiness), no entanto, não possui nem a versatilidade nem a elegância para as caracterizar sem maneirismos, tornando-as bonecos (e de bonecos, de facto, se tratam com toda a maquilhagem e penteados que os realizadores não hesitam em mostrar nos créditos) que enchem a custo o filme com uma lição de moral, conferindo uma carga paternalista de que o filme não precisava.

É pena, porque concluímos que um rapaz pobre chega a maestro (a intriga revolve Maurizio adulto a relatar no mais previsível dos dispositivos, o flashback, como arranjou o seu primeiro instrumento, aos sete anos), sem dar mostras de grande talento ou empenho para tocar o tambor, mas apenas para obtê-lo. Nem a história, nem a forma de contá-la, dão-nos assim razões para considerar este duo promissor, por muito que se justifique o seu trabalho como uma alegoria juvenil para a aceitação social, ou uma fábula para os mais desfavorecidos.

O melhor: Algumas boas ideias no primeiro ato e o sentido de humor.
O pior: O paternalismo e a realização de truques fáceis.


Duarte Mata