O cenário é pós-apocalíptico, mas Os Últimos na Terra apresenta-nos um lugar rural idílico nos Estados Unidos – que, por força divina, o apocalipse terá poupado. Nele, três pessoas, três sobreviventes vão-se encontrar (Os últimos? Nunca se saberá). Não há aqui zombies, extra-terrestres, ou outros monstros que tais. Apenas três humanos e respetivas psiques.
Craig Zobel, responsável por um dos filmes mais inquietantes da era pós-capitalista em que vivemos com Obediência, volta a apostar na inquietação, só que desta feita usa e abusa de uma quietude desconcertante como trunfo, ao adaptar este romance homónimo de Robert C. O’Brien.
Conforme disse acima, não há basicamente qualquer ameaça externa viva e o filme aproveita muito alguns silêncios para se insinuar e sugerir desde logo o que ultimamente cumpre. Talvez esteja aí o grande erro desta narrativa: Zobel consegue mostrar um dos mundos mais originais do género pós-apocalíptico sem contar muito (algo que cineastas como Ridley Scott, dotados de maiores talentos e recursos financeiros, se parecem ter esquecido), mas a sua estabilidade e recusa a tirar o tapete do chão acabam por fazê-lo tropeçar ironicamente.
A partir da segunda metade do filme, quando o trio de protagonistas Chiwetel Ejiofor, Chris Pine e Margot Robbie (todos à altura deste desafio, diga-se) finalmente se juntam no mesmo espaço, o filme mais fascinante também acaba e começa uma contagem decrescente para um final mais previsível. Mesmo assim, a curiosidade mantém-se, e também a simplicidade e quietude que nos tocou mais nos primeiros 45 minutos.
Os Últimos na Terra não pretende explodir com o mundo à sua volta, e o seu modus operandi artístico acaba por frustrar e intrigar em igual medida. Indiferentes não ficamos.
O melhor: a primeira metade, uma verdadeira lição de simplicidade e de “mostrar, não contar”
O pior: sabermos como vai acabar muito antes de acabar
André Gonçalves