Sexta-feira, 19 Abril

«The Diary of a Teenage Girl» (O Diário de uma Rapariga Adolescente) por João Miranda

 

O Diário de uma Rapariga Adolescente conta a história de Minnie. Filha de pais divorciados, vive com uma mãe ausente, cuja relação com os homens vai servir de contrapeso ao crescimento da filha. Baseado numa banda-desenhada de Marielle Heller e adaptado pela mesma inicialmente para teatro e agora para cinema, o filme explode muitas vezes num delírio de imagens que a própria Minnie, aspirante a artista, desenha enquanto confessa ao seu diário (e a nós) o que se passa na sua vida e na sua cabeça.

Quando falamos de filmes sobre “coming-of-age“, normalmente pensamos em filmes bem comportados, onde os erros cometidos são triviais e há normalmente alguém mais velho (um “professor”) envolvido, ou de filmes moralistas, onde esses mesmos erros são mais reais, mais prontamente castigados. O Diário de uma Rapariga Adolescente consegue ser único: não só é um “coming-of-age” perfeito que documenta as descobertas sexuais, pessoais, sociais e químicas da sua protagonista, mas fá-lo sem julgamentos, sem moralismos e sem querer trivializar as consequências possíveis do que se passa.

O filme apresenta-nos algo novo: uma jovem sexual. Há algo de ridículo em dizê-lo, mas o facto é que, infelizmente, não há esta figura no mainstream. Apesar de décadas de lutas para o reivindicar, as feministas não o conseguiram ainda fazer, estando os ecrãs cheios de homens agentes sexuais cujo desejo organiza muitas vezes a narrativa e os contextos por onde andam, mas as mulheres ainda são reduzidas a objetos passivos. Não há aqui nada disto em Minnie que, apesar de se ver numa relação com o namorado da mãe, se recusa a ser vítima.

É, no entanto, essa relação com um homem mais velho e no retrato franco dos seus encontros com o sexo e as drogas que este filme poderá perder o seu público-alvo. A reação da maioria dos pais e mães será a de querer proteger os seus filhos de temas que consideram “adultos”. Bastará mencionar que a idade média para o primeiro encontro com a pornografia é neste momento bastante mais baixa do que os 15 anos de Minnie e relembrar a esses mesmos pais e mães a sua adolescência para se poder argumentar que são necessários filmes assim, que aceitam a complexidade e a sensibilidade dos temas, mas que não os distorcem sob qualquer moralismo nem os tentam encobrir com floreados desnecessários. O Diário de uma Rapariga Adolescente é um filme que deve ser visto e discutido, se não com progenitores prurientes, pelo menos entre amigas e amigos.

O Melhor: Bel Powley; a franqueza do filme.
O Pior: Pela maneira como encara os temas, pode ver afastado o seu público-alvo.


João Miranda

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