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«The Prophet» (O Profeta) por João Miranda

O Profeta é um livro de 1923, escrito por Khalil Gibran, poeta de origem libanesa, que, pelos seus contornos espirituais, foi muito popular nos Estados Unidos dos anos 60. Com uma história que se pode descrever em apenas uma linha, o livro acaba por ser mais um conjunto de ensaios do que uma narrativa. Depois desta descrição, pode perceber-se a dificuldade e a ambição desta adaptação ao cinema.

O filme conta a história de um poeta que, depois de anos preso, vai ser libertado e posto num barco para o seu país natal. Nesse percurso, ele vai interagindo com várias pessoas, o que origina os discursos-ensaio que o caracterizam. Associando o carácter episódico do filme a vários animadores, O Profeta é um filme delirante, com animações que, libertas pela abstração do que é dito, rebentam em arroubos de fantasia. Mesmo que a qualidade e o estilo usado entre episódios possa ser desigual, não é pela animação que este é filme falha.

O grande problema deste filme é a forma como parece datado, não pelo visual, mas pelo que é dito. A espiritualidade que tanto fascinou a contracultura norte americana e que conduziu ao New Age, parece-nos muitas vezes estranha. Sim, há pessoas que ainda falam assim (tendo substituída na última década esta espiritualidade pela “felicidade”), mas alguns dos discursos parecem-nos antiquados e quase incompreensíveis na cultura atual. Dos 26 ensaios que estão no livro, apenas alguns foram seleccionados para aparecerem no filme, com a maioria a ficar de fora. Talvez esta seleção (e, quem sabe, adaptação, já que não li o livro e não posso ter a certeza) poderia ter sido feita de forma a torná-lo mais acessível a uma cultura que abandona tudo o que não seja fácil e imediato e recusa morais marcadas.

O Profeta acaba por ser um filme curioso, tanto pelo visual, como pelo que é dito, mas sente-se anacrónico e sentencioso. Tendo em que conta o que parece querer fazer, é pena.

O Melhor: As animações; Alguns dos ensaios são lindíssimos.
O Pior: Alguns dos ensaios são antiquados ou quase incompreensíveis.


João Miranda