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«Minuscule – La Vallée des Fourmis Perdues» (Minúsculo – o Vale das Formigas Perdidas) por João Miranda

Se a infância é uma construção recente na História da Humanidade, temos visto com o desenvolvimento de uma produção cultural massiva o aparecimento de correntes imbecilizantes deste estádio da vida. Sim, as crianças estão a crescer e não sabem tanto como (alguns) adultos, mas estes poços de curiosidade são tudo menos imbecis. Nem por isso param de ser criados estes dejectos culturais que pensam assim e que, de forma perversa, acabam mesmo por criar imbecis. Minúsculos – O Vale das Formigas é um desses produtos.

Misturando animação com imagem real, o filme conta as aventuras de uma recém-nascida joaninha e a sua participação numa imensa batalha de formigas. Nada aqui é subtil ou matizado: os bons são bons porque sim, mesmo apesar das suas ações, e os maus igualmente, tendo elementos visuais e musicais a explicarem-nos quais são o quê. As leis da física são para ser ignoradas conforme o plot e o que acontece acontece só porque foi assim escrito, sem qualquer motivação ou coerência. Pior, pelo final do filme, enfiados num buraco tão grande, os criadores desta animação viram-se obrigados a recorrer a um deus ex machina risível e difícil de acreditar.

Pode argumentar-se que não sou o público-alvo do filme, mas a sessão estava cheia de crianças igualmente baralhadas com o que se passava no ecrã: as perguntas todas começavam por “porquê”, num sinal óbvio que nem para elas fazia sentido a história ou as opções tomadas. Sim, porque os escritores deste argumento podem pensar que as criancinhas são imbecis, mas elas não o são. Infelizmente, alimentadas com uma dieta assim pobre e com a incapacidade dos pais de responder às suas perguntas, pouco a pouco, acabam por se tornar nuns.

O Melhor: A fotografia; algumas referências cinematográficas.
O Pior: A incoerência; a imbecilização.


João Miranda