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«24 Weeks» por Paulo Portugal

Por vezes, um filme de temática emotiva e incontornável não significa que traduza com a mesma intensidade os seus méritos cinematográficos. No caso, o dilema de uma mãe que espera o segundo filho vem a descobrir que o mesmo sofre de trissomia 21. Mesmo depois de pesar todas as interrogações que tal nascimento traria, sobretudo para uma estrela de stand up comedy germânico, o casal decide avançar com a gravidez. Até que uma segunda contrariedade, no caso, uma malformação do coração que levaria inevitavelmente a uma operação de risco, empurra este casal para um novo círculo de decisões.

Perdoe-se o eventual spoiler, embora esta dinâmica cedo se estabelece centrando-se mais na decisão a tomar. E aqui “kudos” terão de ser dados à prestação arrebatadora (muitos não resistirão a uma lágrima) de Julia Jentsch, seguramente uma das candidatas presentes na short list do júri.

A este respeito, recordamos até Maggie’s Plan, de Rebecca Miller, um filme bastante agradável exibido numa outra secção do festival, em que Greta Gwerwig tem uma decisão semelhante, mas a de procurar a pessoa certa para levar a cabo uma inseminação artificial. Temos aí um registo de leveza, bem diferente do naturalismo que a realizadora Zohra Berrached quis imprimir nesta segunda longa metragem.

Seja como for, 24 Weeks opta desde cedo por centrar-se no tema, sobretudo por que solicita mulheres (mas também aos homens) qual a decisão a tomar no caso de avançar para um aborto com um feto viável e sobretudo num estado avançado de gravidez com as consequências e riscos do procedimento a seguir. Mas se o tema é de inegável mérito, já a concretização do filme não atinge um interesse desejável. De resto, existem vários exemplos em que o valor do tema não beliscou o mérito do filme. 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, do romeno Christian Mungiu, que viria a ganhar a Palma de Ouro, bem como o já citado Maggie’s Plan, bem como A Escolha de Sofia. 24 Weeks não pertence a esse lote, mesmo que esteja longe de dececionar.

O melhor: A prestação de Julia Jentsch e o detalhe do tema abordado
O pior: O excesso de naturalismo interrompe um maior sentido de cinema


Paulo Portugal