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«Tempestad» por Roni Nunes

Filme da Panorama do Festival de Berlim que traz um olhar feminino com um foco muito próprio sobre a terrível crise da sociedade mexicana causada pelos cartéis do narcotráfico. Isso porque Tatiana Huezo não se focou nos signos visíveis da extrema violência dos gangues, optando antes por mostrá-la através dos dramáticos efeitos no quotidiano de duas mulheres.

Uma delas relata, sempre em áudio e nunca em imagens, o que lhe aconteceu quando foi acusada injustamente de corrupção – isto porque o governo precisava ilibar-se na comunicação social e escolheu um grupo de pessoas aleatoriamente para culpar. Ela foi entregue à uma penitenciária no extremo oposto do país – gerida à margem de qualquer lei por uma organização criminosa. A outra história é marcada pelo desaparecimento da filha de uma mulher do circo, pela “investigação” levada a cabo por uma polícia extremamente corrupta e pelo desespero vindo, não só de não saber o seu paradeiro, mas por este se tratar, provavelmente, da prostituição.

O recurso do anonimato funciona: nunca se vê a as pessoas que narram – com a realizadora a mostrar antes diferentes mulheres e, com isso, alcançar eficazmente a universalização de um drama que, afinal, poderia acontecer a qualquer um. A “tempestade” aqui é interior – mas não menos intensa, onde desfila aos olhos do espectador o quotidiano de um país que tem a sua vida frequentemente invadida por sinistros poderes externos. O recurso, no entanto, não evita momentos de cansaço – especialmente na quebra óbvia que ocorre no início da segunda história.

O Melhor: abordagem intensa da questão do narcotráfico no México
O Pior: a opção estética nem sempre sustenta o resultado final


Roni Nunes