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«War on Everyone» por Paulo Portugal

O cinema propositadamente “cool” do irlandês londrino John Michael McDonagh deixa marcas evidente em War on Everyone, um filme apostado, e visivelmente seduzido, pelo ritmo acelerado de uma estreia no cinema americano e com um assento tónico nas duplas de agentes da lei com sangue na guelra e mão no gatilho. Mas talvez esse excesso de “coolness” acabe por nos desviar um pouco da confusa história do filme. Se bem que o título do filme já avisava ao que vinhamos…

A trama instala-se de rompante, com aceleração e derrapagem como que reciclando vários projetos dos anos 70, desde A Balada de Hill Street em diante ou Starsky and Hutch, alimentada com muito álcool e cocaína, tipo variante de Os Incorruptíveis Contra a Droga, sem esquecer Tarantino ou Guy Ritchie. Eles são Bob e Terry, respetivamente Michael Peña e Alexander Skarsgård, uma dupla de agentes corruptos que apenas contam com a paciência remissiva do seu superior (Paul Reiser).

McDonagh percebe de agentes da polícia, pois embarcou com Brendan Gleeson em O Guarda e depois em Calvary, ambos bem recebidos pela crítica. Só que agora acaba por desbaratar esse filão ao optar por seguir o frenesim de múltiplas ideias que até poderiam garantir um eventual fio narrativo, mas que acabam perdidas pela atitude de permanente afronta da dupla que invariavelmente nos deixa a cabeça à roda para tentar perceber o que realmente se passa.

Existem muitas histórias e personagens coloridas em War on Everyone, as quais surgem a partir de um golpe numa pista de corridas envolvendo um afro-americano muçulmano (Malcolm Barrettt) que, por sua vez, nos remete para um clube de strip dirigido pelo insinuante e sexualmente indeterminado Birdwell (Caleb Landry Jones) e à ex-striper Jackie (Tessa Thompson). Há ainda um Lorde aristocrata britânico, Mangan (Theo James), envolvido em esquemas muito pouco dignos. Mas, lá está, ficamos um pouco perdidos por um filme que assume cedo que não se pretende levar a sério. E que a certo ponto exclama mesmo: tudo começa e acaba no guião. Pois, é precisamente por aí que esta ‘guerra aberta’ acaba por disparar em todas as direções, mas acaba por falhar o alvo.

Até mesmo quando o tom musical “seventies”, que domina todo o filme, se despede com uma “malha” final dos Clash. “Boa música, não é?”, é este o derradeiro diálogo… Pois é, mas o filme é que deixa a desejar. Talvez daí ter sido remetido para a secção mais experimental da Panorama.

O melhor: o estilo cool dos anos 70, o som e as tiradas da dupla Peña e Skarsgård.
O pior: a sensação de que não existe um verdadeiro filme.


Paulo Portugal