Quinta-feira, 25 Abril

«The Finest Hours» (Horas Decisivas) por Jorge Pereira

Não podia ser um registo mais tradicional este The Finest Hours (Horas Decisivas), um filme onde heroísmo, superação e sentimentalismo andam de mãos dadas com efeitos visuais sumptuosos para relatar o facto real de uma pequena embarcação da guarda-costeira que salvou 32 homens da morte certa em mar alto.

Estávamos a 18 de fevereiro de 1952 quando dois petroleiros – o Fort Mercer e o Pendleton –, afastados por apenas 40 milhas, se partiram ao meio e ficaram à deriva devido a uma tempestade catastrófica. Com grande parte da guarda-costeira no salvamento do Mercer, Horas Decisivas incide nas operações em torno de uma das partes do Pendleton, focando-se nos homens que tiveram, com sabedoria e engenho, de manter o que restava do navio à deriva na esperança de serem salvos.

A liderar a ação no que resta desta embarcação está Casey Affleck, aqui com tiques de um antissocial Robert Shaw, de O Tubarão, o qual usava o pragmatismo como resposta a qualquer problema. A cena em que Affleck explica cuidadosamente o que deve ser feito para manter o barco à deriva, isto enquanto come, parece uma réplica de Quint, que em O Tubarão risca um quadro e explica como se deve atacar a presa com grande calma e tranquilidade (enquanto também petisca uns snacks).

Paralelamente, acompanhamos também a ação em terra, com incidência numa pequena localidade costeira onde sairá o barco de salvamento. Aí conhecemos os homens que irão participar nesse ato heroico, em particular Bernie Webber (Chris Pine), numa apresentação que inclui também um romance com Miriam Webber (Holliday Grainger) e o facto de ele não confiar plenamente nas suas capacidades devido a um trauma do passado. Por isso mesmo, não merece grande respeito por parte dos colegas, onde se destaca um Ben Foster em bom nível.

É curioso como Craig Gillepsie, realizador do nada convencional Lars e o Verdadeiro Amor, parece se render aos lugares comuns destes dramas marítimos. O cineasta, que até sabe lidar – sem inovar verdadeiramente – com a ação e os perigos do mar, consegue momentos que não ficam em nada atrás aos alcançados em dramas marítimos recentes como A Tempestade Perfeita ou Poseidon – embora por vezes dê a sensação que ele parece ser mais instrutivo do que espetacular. Já quando toca em nos prender ao lado dramático das personagens e das suas relações as coisas correm pior, sendo tudo muito vulgar, derivativo e morno, num misto de companheirismo de marinheiros, rivalidades versus superações pessoais, e um romantismo da velha escola melosa.

Se este foi um dos salvamentos mais fabulosos da guarda-costeira, o filme fica a muitas milhas náuticas de realmente ser um exercício que não meta água.

O Melhor: Sem inovar,  tecnicamente está bem construído
O Pior: A fórmula do filme “feel good” à força

 


Jorge Pereira 

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