Quinta-feira, 25 Abril

«Goosebumps» (Arrepios) por Hugo Gomes

Ao contrário de Pixels, onde a coletânea arcade apenas serviu para empregar mais uma vez Adam Sandler, Goosebumps (Arrepios, em bom português) funciona como uma despretensiosa aventura que “bebe” de um fenómeno literário dos anos 90 (mais de 300 milhões de livros vendidos globalmente) a sua nostálgica novecentista. Na nossa memória é invocado Jumanji, de Joe Johnston, por exemplo.

Contudo, a mais evidente referência, que é astutamente invocada por uma das personagens do filme: The Blob (Fluido Mortal), o original de Irvin S. Yeaworth Jr (aquele com Steve McQueen à mistura), que remete-nos a uma pacata cidade, invadida por algo que não é deste mundo. No caso do filme de Rob Letterman, a grande ameaça é a imaginação de R.L. Stine (aqui interpretado por um não tão irritante Jack Black), uma alusão ao verdadeiro escriba da saga literária de tremendo êxito global que é Goosebumps.

Apesar de serem obras que ficavam muito aquém da grande criatividade, quer narrativa, quer estilística, e o próprio escritor estar a léguas da genialidade, Goosebumps tornou-se numa espécie de curso para “iniciados” a entranharem-se no género do terror. Contam-se assim muitas aventuras terroríficas propícias a apavorar quem ainda não experienciou a puberdade, histórias recicladas e, como Stine descreve, de certa forma autodesvalorizado o seu trabalho, “goofy” (patetas). Porém, e no fundo, estas funcionaram graças a singelas tramas e um olhar conhecedor aos códigos do terror.

O filme, por sua vez, tenta incutir uma panóplia de homenagens e consegue-o através de uma leitura semibiográfica, com Stine a transformar-se no protagonista das histórias que o próprio havia criado. O resto é efeitos visuais requintadamente vistosos, humor que varia entre o juvenil e o jovem adulto e “easter eggs” dignos para quem leu os livros na infância. Pois bem, Goosebumps opera, tal como os livros, através da sua simplicidade, nunca esforçando em demasia no tratamento das suas personagens, nem nunca assumindo aquilo que não é.

É sim uma aventura passageira que felizmente não envergonha ninguém, nem muito menos defrauda memórias. Poderia sair daqui um dos piores do ano, mas não foi.


Hugo Gomes

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