Quinta-feira, 25 Abril

«13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi» por Jorge Pereira

Entre capítulos da saga Transformers, Michael Bay continua a contar alguns episódios do quotidiano norte-americano e depois de apresentar o ultra estilizado filme de ação a esteróides Dá e Leva, sobre um grupo de culturistas envolvidos em atividades criminais na Flórida, o cineasta de filmes como  A Ilha e Armagedão decidiu relatar o caso real do ataque ocorrido na cidade de Bengasi (Líbia) ao Complexo Diplomático dos EUA a 11 de Setembro de 2012.

Na base deste filme está o livro de Mitchell Zuckoff, 13 horas: os soldados secretos de Bengasi, um relato de não ficção que acompanha os eventos descritos pelos sobreviventes do ataque, complementados com alguma perspetiva história dos mesmos, da Líbia e da logística de procedimentos posteriormente revelada em documentos publicados pelo governo norte-americano e pela imprensa.

Fora desta narrativa, segundo avisa o jornalista Zuckoff no seu prólogo, fica «o que aconteceu nas salas de audiência do Capitólio, nas antecâmaras da Casa Branca, nas salas de reunião do Departamento de Estado» e o que foi dito nos «bastidores dos talk-shows televisivos».

Esta aparente limpeza política de um caso mediático como este – especialmente quando o tema é facilmente usado como arma de arremesso nas eleições americanas que se avizinham – foi seguida religiosamente no discurso de Bay perante os Media. Porém, quando vemos um dos símbolos do seu cinema – a bandeira americana sempre esvoaçante – imóbil e encharcada numa piscina/lago no final deste filme, é inevitável dizer que, mesmo que não queira, há aqui uma mensagem: os EUA meteram a “pata na poça” com um grupo de homens que serve a nação.

Tanto Zuckoff como Bay começam os seus trabalhos apresentando as personagens e o local, tentando introduzir-nos rapidamente nos seus mundos e à tensão e instabilidade da cidade onde estão. Porém, o realizador – confundindo estudo de personagens com manipulação sentimental – carimba de uma forma mais sensacionalista o universo deste “operadores”, em especial de Jack Silva (John Krasinski), um homem casado e com dois filhos que se mantém frequentemente em contacto com eles. Bay invoca aqui algo permanente nos seus filmes: os sacrifícios heroicos de homens de família por um desígnio maior (lembrem-se de O Rochedo ou Armagedão). 

Esse tom prossegue na apresentação das relações entre os operadores/seguranças/soldados, “irmãos de armas” repletos de testosterona que confiam uns nos outros cegamente pois só assim conseguirão sobreviver e triunfar. Mas essa abordagem é sempre muito superficial e limitada pois, como já disse acima, quando se exigia um maior estudo das personagens, Bay responde com lugares comuns e algum humor de caserna.

Quando chega finalmente a hora do combate, o realizador volta a perder-se em exibicionismos. Tratando o confronto como um roteiro para o caos, definidos por uma câmara trémula que acompanha os combatentes, Bay até consegue oferecer alguma inquietação, em especial porque é frequente os operadores questionarem no meio da luta quem é o bom ou mau, mas quando os insurgentes disparam ou retaliam, chega o lado mais fantasista e de videojogo da sua cinematografia.

 

Sim, muitas das sequências da reação ao ataque ao complexo e defesa posterior do anexo da CIA são feitas com um olhar adolescente de “Gamer”, como se o jogo Call of Duty, que os operadores jogavam nos tempos livres, ganhasse forma no Complexo e no Anexo. Este olhar mais aborrecido, menos real e menos credível, tem o problema de criar um distanciamento e alienação por parte do espectador em relação a tudo (ninguém gosta de ver um videojogo, mas sim de jogar), algo que os primeiros momentos da “shaky camera” tinham conquistado, quando estávamos colados a fugir e a lutar ao lado destes homens. Alguns diálogos, que podiam ter saído de um filme da Marvel (Hello Captain America! I’m fighting for my country), também não nos ajudam.

Por tal, e nessa mistura de sentimentalismo, relações superficiais, videojogo das lutas e ainda alguma pressa em contar factos importantes (em oposição a outros estendidos sem justificação), 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi acaba por servir apenas como um resumo visual de algo mais interessante: o livro.

É que, mesmo que este tenha uma visão unilateral da história, já que só segue um dos lados do confronto, a sua destreza em relatar os factos – longe do eruditismo literário e mais próximo do trabalho jornalistico –, complementando com outros elementos, é deveras mais interessante, contagiante e recompensador que o que Bay consegue por aqui.

O Melhor: O bloco de atores. O facto de manter a espinha dorsal do livro e enviar algumas farpas. 

O Pior: O tom videojogo nos combates, a manipulação sentimental do conceito homens em guerra também têm família, ainda que também exista um subtexto de se vale a pena estes sacrifícios por esta causa.


Jorge Pereira

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