Quinta-feira, 28 Março

«Foxfire – Raposas de Fogo» por Duarte Mata

De todos os cineastas que ganharam nos últimos anos a Palma de Ouro, Laurent Cantet é aquele de que nos mais esquecemos. Foxfire – Raposas de Fogo foi a sua primeira longa-metragem em quatro anos, depois de ter vencido (de forma inesperada, mas merecida) o Festival de Cannes com Entre les Murs – A Turma, filme que abordava a árdua tarefa de um professor numa escola difícil em educar adolescentes revoltados.

Nessa obra aclamada, mais do que a leitura sociológica, pedagógica ou cultural subjacente, era o conflito professor-alunos que interessava e que conferia o tour de force necessário para avançar com ela. Também é o caso de Foxfire, como nas cenas em que os mais novos fazem frente à autoridade (seja numa loja ou num tribunal), é aí que vale a pena olhar, na recusa da submissão estabelecida pelo frente-a-frente, em que os olhares passam de uma agressividade quase febril ao medo até ali reprimido. Cantet está confirmado como um cineasta de tensões. Mas, quando ocorre o conformismo há algo de falso, de manipulador e, por isso, os primeiros minutos desapontam, nesta história em que um grupo de raparigas adolescentes querem fazer aquilo a que apelidam de justiça, mas são incapazes de lidar com as consequências, o que as leva a represálias severas e, mais tarde, ao crime. É também esse o principal problema: as personagens vão-se tornando cada vez mais detestáveis e os encontros com terceiros apenas servem para salientar qualquer coisa como a velha temática da “inocência perdida”, apesar da ligeira análise aos efeitos das instituições corretivas.

Seja sobre a amizade ou a delinquência juvenil, a pequena sociedade formada estipula as suas regras e, sem dar por isso, vive à margem da civilização, algo que já conhecemos do livro O Deus das Moscas que, ainda assim, procurava pelo menos preservar um olhar inocente. É isso que falta neste filme, uma pureza, por mais infantil que parecesse, mas que servisse de guia ao espectador. Para além disso, é, infelizmente, demasiado longo e fácil de perder o interesse.

O melhor: A tensão entre as personagens.
O pior: A longa duração e a manipulação em alguns momentos.


Duarte Mata

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