Quinta-feira, 28 Março

«Brooklyn» por João Miranda

 

A História da Humanidade é uma de migração. Desde os primeiros passos em África até às mais recônditas ilhas no Pacífico, a vontade de uma vida melhor sempre nos impulsionou a procurar um novo começo em territórios desconhecidos ou míticos, terras prometidas por deuses generosos ou lugares onde a abundância se manifestava em rios de mel e árvores que davam moedas em vez de fruto. No séc. XIX, um desses lugares era os Estados Unidos da América, tendo já sido feitos vários filmes de várias nacionalidades sobre as várias ondas migratórias que saíram da Europa para esse “El Dorado”. Nesse século, a migração era vista ainda como algo comum, mas, no que se seguiu, esta foi-se transformando em trasngressão, tendo-se transformado a linguagem que a descreve, assumindo contornos pseudo-científicos de contaminação e infecção, e chegado aos exageros que vimos este ano. Nesta luta cultural (e moral) que se vai definindo, muitos são os filmes que vão querendo participar na discussão, a maioria focando-se nas dificuldades encontradas (xenofobia, burocracia, ilegalidade, etc.). Brooklyn, de John Crowley, foge desses temas e, ao mesmo tempo que retrata a migração irlandesa para os Estados Unidos no ínício do século XX, foca-se no dificuldade emocional de abandonar a casa, a família e os amigos que conhecemos e de procurar construir tudo de novo.

Brooklyn conta a história de Eilis, cujo futuro na Irlanda natal parece limitado e que se lança para a possibilidade de um melhor do outro lado do Atlântico, onde a presença de conhecidos lhe garante a abertura de algumas portas. Brooklyn é um filme enganadoramente simples, com o seu tom calmo e sem histrionismo. Focando-se no crescimento da sua personagem principal, consegue mostrar a realidade da migração irlandesa nos Estados Unidos, com todas as suas ilusões, a eterna nostalgia e o confronto destas com a identidade nacional americana que se procura definir e à qual todos tentam pertencer. Se foge da pobreza e se mostra um caso de migração cujas dificuldades não são sórdidas, é porque Brooklyn pretende mostrar algo diferente: a humanidade e os desejos de quem migra. Até o triângulo amoroso que se define a meio do filme não é verdadeiramente importante, já que, mais do que tentar criar uma tensão, apenas ajuda a acentuar a que sentimos em Eilis desde o início do filme, entre ficar e partir.

No meio de tudo isto há que chamar atenção a Saoirse Ronan, que interpreta Eilis e aparece em quase todos os planos do filme. A subtileza e a quantidade de informação e emoção que esta consegue transmitir são avassaladoras. Se já antes Saoirse nos tinha mostrado o seu potencial, aqui mostra-nos que é uma grande atriz.

O Melhor: Saoirse Ronan
O Pior: Com um enfoque tão grande na personagem principal, muitas das personagens secundárias acabam por não ser mais do que esboços ou estereótipos.


João Miranda

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