Sexta-feira, 29 Março

«The Ridiculous 6» por Jorge Pereira

Talvez antevendo a reação da crítica, há uma cena neste Ridiculous 6 em que o General Custer (David Spade), o escritor Mark Twain (Vanilla Ice) e o temível xerife Wyatt Earp (Blake Shelton) usam a palavra “sátira” como uma espécie de aviso ao espectador para aquilo que está a ver, ou seja, que tudo isto não passa de uma fita que “mete a ridículo os vícios ou defeitos de uma época ou pessoa”. O próprio Ted Sarandos, patrão da Netflix, produtor por aqui, frisou que Ridiculous 6 tem ‘ridículo’ no título pois é verdadeiramente ridículo e uma grande “sátira” (outra vez a mesma palavra) aos filmes do faroeste (em particular a Os Sete Magníficos) e aos estereótipos que eles popularizaram no passado.

Porém, estas palavras não salvam de modo algum este filme, o qual prova, durante uns penosos 119 minutos, que a controvérsia em torno do grupo de atores indígenas que abandonaram as filmagens por se sentirem ofendidos com o guião, é mesmo o seu menor problema. Qual é então o maior problema? É fácil. Isto é um filme escrito e protagonizado por Adam Sandler. Nos tempos que correm, basta dizer isso.

filme-lixoque se uma piada funciona viramos crentes e acreditamos em milagres.Em Ridiculous 6 seguimos Tommy “Faca Branca” Stockburn (Sandler), um homem educado pelos índios que vê Frank Stockburn (Nick Nolte), o seu pai fora-da-lei, regressar. Este reencontro é marcante, mas tudo muda quando o velho gangue de Stockburn, sob o comando de Cicero (Danny Trejo), chega para o sequestrar. Agastado pela situação, “Faca Branca” deixa a sua tribo, visitando inúmeros locais e descobrindo cinco meio-irmãos (Taylor Lautner, Rob Schneider, Terry Crews, Jorge Garcia e Luke Wilson). Reunida a família, os seis partem com a missão de recuperar o pai, vivendo de assaltos e cruzando-se com inúmeras personagens bizarras pelo caminho, como um barbeiro/dentista/faz tudo (Steve Buscemi), o rico dono de um saloon (Harvey Keitel) e até Abner Doubleday (John Turturro), aquele que muitas vezes é – erroneamente – apontado como o inventor do Basebol. Neste filme-lixo, onde tudo é tão pobre, isto quase que implica termo-nos tornado subitamente crentes, ao ponto de “acreditarmos” em milagres, mas a verdade é que os momentos em que o filme tem mais piada, e onde o humor de alguma forma funciona, são mesmo aqueles em que aqueles três atores estão em cena.

Sim, o que mais encontramos em Ridiculous 6 é lixo na forma de pseudo-piadas, umas que tentam ser grotescas, outras simplesmente ofensivas, há naturalmente as sexuais e escatológicas e, claro, fica sempre bem colocar personagens do passado com um swag «Da Hood» (veja-se Mark Twain).

Tudo isto pode ser hilariante na cabeça de Sandler e Tim Herlihy, os argumentistas, mas após tantos desastres que o duo e Frank Coraci (o realizador) têm executado nos últimos anos, começamos a pensar que: a) ou simplesmente Adam Sandler desistiu e “escapa sempre” no seio da indústria do cinema; b) viajou no tempo e sabe que no futuro a sua obra será vista como um objeto de culto; c) é meramente um caso patológico; d) estamos todos errados e isto é tudo genial… e somos nós um caso de psiquiatria.

Dito isto, se querem ver uma sátira decente aos westerns chamem Mel Brooks e o seu velhinho Blazing Saddles (Balbúrdia no Oeste), ou então simplesmente enfiem-se num buraco no deserto só com a cara a descoberto (como acontece à personagem de Steve Zahn por aqui) e “divirtam-se” com as formigas. Certamente existem pessoas que dirão que isso será menos penoso que ver este Ridiculous 6.

O Melhor: Taylor Lautner na forca e John Turturro a ditar as regras do basebol
O Pior: Praticamente tudo


Jorge Pereira

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