Sexta-feira, 19 Abril

«El Apóstata» por Roni Nunes

Gonzalo Tomayo (Álvaro Ogalla) arranjou uma maneira de experimentar a democracia no seu país (Espanha) anos depois da queda de Franco: obter uma desvinculação formal da igreja católica. Por outra palavras, ele quer cometer uma “apostasia” – simbolizada na eliminação do seu nome no registo de batismos da instituição. O exercício da liberdade religiosa num Estado laico, todavia, revela-se muito mais complicada do que poderia parecer.

O assunto em si tem interesse e, no filme, o eterno estudante (de filosofia, aparentemente) e preguiçoso profissional Gonzalo o vai formular intelectualmente em alguns momentos onde coloca-se em confronto aberto com as autoridades eclesiásticas. Nestes diálogos, ele questiona assertivamente o facto do sistema legal não permitir a sua libertação de uma organização a qual foi filiado quando ainda não tinha hipótese de escolha.

El Apóstata, no entanto, passa longe de ser um filme convencional de luta de um homem determinado contra a burocracia, o sistema, as instituições ou que quer que o oprima o indivíduo. Tirando as cenas de confronto, o argumento a quatro mãos (entre as quais a do ator protagonista e a do realizador, o uruguaio Federico Veiroj), resolveu preencher o resto do filme outorgando ao seu protagonista uma componente erótica de rebeldia – comprazendo-se em intercalar cenas que revelam sua natureza débil/lasciva ou a sua “crueldade” assertiva. Assim, com um caráter onírico, há uma luxuriante relação com a prima Pilar (Marta Larralde), uma mais casta com a vizinha Maite (Bárbara Lennie), uma cena de assédio feminino no autocarro e, mais revelador, uma espécie de “sonho” onde ele entra num agrupamento nudista.

Mas a energia que falta ao protagonista, sofregamente interpretado por Ogalla, quando não está em guerra com os religiosos, parece atingir o filme, onde elementos que podiam ser explosivos (erotismo, deboche, apostasia, filosofia) ficam-se pela evanescência de um resultado final apenas simpático pelas suas bizarrices.

O Melhor: as questões filosóficas.
O Pior: como proposta cinematográfica carece de energia e assertividade.

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