Sexta-feira, 29 Março

«Everything Will Be Fine» (Tudo Vai Ficar Bem) por Virgílio Jesus

Na tentativa fracassada de utilizar o 3D num registo menos mainstream, tal como já tinha ocorrido com o documentário de dança Pina (2011), Wim Wenders conta em Tudo Vai Ficar Bem uma história dominada pelo trauma da morte e consequentes métodos pessoais para lidar com o sentimento de culpa.

Tomas (James Franco) é um escritor de romances em busca de inspiração para o seu novo livro quando, em pleno inverno e durante um momento de distração na condução, embate contra dois irmãos e um deles acaba mesmo por falecer. Tomas já era um indivíduo perdido no processo criativo, quando aquele acontecimento, prejudicialmente não mostrado no ecrã, o afeta mais. Seja culpado ou inocente, vive sob plena ambiguidade que, em tom desagradável, confunde a plateia. Tomas não sabe lidar com a namorada Sara (Rachel McAdams), nem com o pai, ou consigo mesmo (encontramos no seu instinto uma camada arrogante, continuando a sua escrita). Por isso que poderemos compará-lo a qualquer outro artista: a sua presença, quando integrado na comunidade, reflete uma espécie de força do mal, mas em pleno isolamento do seu lar é um génio para a redação de novas histórias.

O sentimento de culpa que o arrasta numa turbulenta descoberta pessoal leva-o a uma overdose, rompendo o seu relacionamento com Sara. A própria tenta, sem quaisquer chances, fazê-lo regressar à realidade e procura desprende-lo de um fantasma absorvente. Mais tarde, conhece Ann (Marie-Josée Croze) uma mãe solteira, que também espera despertar uma maior sensibilidade no seu coração. Tal duelo entre homem e mulher(es) reenvia para a permanente presença do fruto de ambos, as crianças – exemplo óbvio de Christopher e o momento em que caminha nos ombros de Tomas, no qual o protagonista reflete a figura paterna que jamais poderá ser.

Além disso, Kate (Charlotte Gainsbourg), mãe dos rapazes do acidente, é tão vulgar que não acrescenta nada de novo ao conceito. Vejamos para o caso o inteligente filme A Troca (2008), talvez o melhor desempenho – oferecido por Angelina Jolie – neste registo de rompimento materno.

O problema não é diretamente de Gainsbourg, que sempre prova o seu talento, mas do argumento de Bjørn Olaf Johannessen. O mesmo não satisfaz porque é dominado por meros instantes. Não espere que as emoções venham a sobressair no seu rosto, porque não é dado tempo para tal, visto que essa acção que nunca para e até a cena mais chocante do início poderia ter sido estendida e não dominada por um certo secretismo.

Comparativamente à narrativa filosófica As Asas do Desejo, também realizado Wim Wenders e uma das suas melhores obras, estamos diante um registo ignorante do campo psíquico, que não consegue ser transcendente. Exemplificando considere o som, que cria um paradoxo. Wenders propõe a entrada na alma de Tomas, mas os sons de Alexandre Desplat conduzem o espetador ao encontro com Deus. É demasiado confuso o que este filme pretende alcançar, numa irracional repetição exaustiva da palavra “bem” durante os 12 anos que a trama se desenrola.

Na sequência final, o sol ilumina todos os espaços, mas há pura infantilidade nas suas filmagens. O suspense que tenta criar dificulta ainda mais a moral que se esperava extrair. Aparentemente este é um filme sem qualquer esperança, decepcionando pela qualidade do elenco.

O melhor: A pequena aparição de Rachel McAdams.
O pior: O argumento frouxo.


Virgílio Jesus

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