Sábado, 20 Abril

«Erbarme dich: Matthäus Passion Stories» por João Miranda

Se a música pode curar, Bach, um dos seus expoentes na cultura ocidental, é um dos mais potentes remédios que existe. É sobre essa premissa que assenta Erbarme dich: Matthäus Passion Stories, um filme sobre o poder da música e da religião, contada na primeira pessoas nos vários testemunhos que ouvimos, entrecortados pela performance (tocada, cantada e encenada) de músicas de Bach, concentrando-se na titular paixão.

Erbarme dich é um filme obscuro, tanto na luz utilizada, como na simbologia, que vai surgindo de forma sequencial de forma incompreensível. Dá ideia que esta última poderá estar ligada aos vários intervenientes que participam no filme (um coro de sem-abrigo e pessoas com relações pessoais com a música de Bach, sem contar com a orquestra e o coro que vão tocando as várias peças), mas nunca são integradas em nenhum discurso ou cartela. Esse é outro problema: as cartelas são igualmente desconcertantes. Frases em maiúsculas e letras de cores que não se relacionam entre si ou com o que vemos e ouvimos no filme. Por vezes humorísticas, a melhor é a que indicia Deus como o maior devedor a Bach.

Se há algo que funciona é mesmo a música e os testemunhos sobre como esta pode transformar as pessoas que a ouvem e interpretam. O luto, as decisões difíceis, a doença, todas estas situações parecem ser menos difíceis pela música e, nesse sentido, Bach é sem dúvida Deus. Apoiado na religião, a música de Bach consegue mover-nos da mesma maneira que a Fé, reforçando-a a quem já a tem e dando-a a quem não a tem. A intimidade e emotividade de alguns discursos são aumentadas pela música, com momentos em que a sala toda se turva enquanto os pelos no pescoço se arrepiam. Se o filme tem alguma coerência é a que a música e a emoção lhe dão, muitas vezes oposta às imagens. Dá vontade de fechar os olhos e só ouvir.

O Melhor: Bach, Bach, Bach.
O Pior: A incoerência visual/estilística. 


João Miranda

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