Sexta-feira, 29 Março

«The Final Girls» por André Gonçalves

Filmes como A Rosa Púrpura do Cairo e O Último Grande Herói já o tinham feito para outros géneros cinematográficos. Gritos já tinha enunciado e desconstruído as regras do terror dito “slasher” que imperou desde filmes como Halloween ou Sexta-Feira 13. Películas onde um assassino mascarado começa a matar um a um, jovens com as hormonas aos saltos, até restar uma “rapariga final”, que se safa por ser virgem. E como o espectador minimamente informado sabe, sexo equivale a morte. Mas há algo neste The Final Girls que raramente foi conseguido no género de terror: algo como expressar emoção (maternal) genuína.

Passaram-se mais de duas décadas, mas Amanda Cartwright nunca se conseguiu livrar do facto de ser lembrada puramente como a boazona de “Camp Bloodbath“. A sua filha, no aniversário da sua morte, é convidada para aparecer numa sessão especial dos primeiros dois filmes da saga mais famosa de “slasher de acampamentos” para os fãs “Bloodmáticos” – só que o pior acontece, e um incêndio obriga-os a abrir caminho pela tela… até irem parar ao próprio filme que assistiam.

Com piscadelas de olho para dar e vender aos fanáticos do género, não é no entanto pela mera metanarrativa e pelos sustos que o filme vence aos pontos a competição. O suspense existe de mãos dadas com o humor (onde não faltam sequer os “apanhados” finais!), e o espectador que venha a esse propósito não se sentirá de todo defraudado.

The Final Girls marca a diferença na dimensão emocional acrescentada, de fazer lacrimejar muito homem forte que vinha à procura só de mamas… Nomeadamente, na estranha relação mãe-filha – ou pré-mãe e orfã, atriz-pessoa real. Trunfo nada desprezável nesta conquista: Taissa Farmiga (filha de Vera Farmiga) e talvez mais surpreendente, Malin Akerman, de rainha das gargalhadas fáceis para rainha das lágrimas.

Um filme fácil de acarinhar, e que merece o seu destaque, num ano particularmente espantoso para o cinema fantástico norte-americano. Mas saliente-se novamente aqui que o terror passa para terceiro plano.

O melhor: a dimensão emocional adicionada
O pior: o terror passar para terceiro lugar, após o drama inesperado e a comédia mais que esperada.


André Gonçalves 

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