Sexta-feira, 19 Abril

«Marguerite» por Duarte Mata

Que doloroso é Marguerite, uma das mais vis comédias estreadas este ano, onde o espectador ri-se da personagem (e não com ela) e dos sonhos frágeis que possui. Neste caso, a Marguerite do título (Catherine Frot em estado de graça) é uma aristocrata parisiense dos anos 20 (baseada na infame Florence Foster Jenkins, que terá filme próprio no próximo ano interpretada por Meryl Streep), amante incondicional de ópera, mas incapaz de cantar uma mísera nota afinada, o que não impede que à sua volta se integrem pessoas desonestas e domadas pela hipocrisia que lhe incentivam a prostra-se ao ridículo. De anarquistas da época ao fiel mordomo, todos se aproveitam e mostram as várias facetas de oportunismo que pode haver nas sociedades altas. Resta o marido (soberbo André Marcon), fraco como os outros, mas o único que mente para protecção da esposa e não para obter garantias.

Falámos em comédia e não nos contradizemos ao afirmar que, seria cómico se não fosse terrivelmente trágico (principalmente o final, onde a verdade chega demasiado cedo e o amor demasiado tarde, incidente verdadeiramente operático), o que em boa parte se deve à realização de Xavier Giannoli, que aqui se prova como um excelente contador de histórias, acompanhado por uma fotografia de beleza “chiaroscúrica” rara e de um trabalho de produção cuidadoso.

Giannoli não está tanto interessado em usar a sua protagonista como motivo de chacota, mas sim como portadora de uma candura necessária e devota para levar ao orgulho do seu marido (de resto é, aliás, ele o elo fulcral filme-audiência, que leva o espectador a comover-se com cada situação e não a ridicularizá-la por cima). É tangível o encanto que o cineasta encontrou em Jenkins e demonstra a crueldade social (sob o pretexto de agrado) quase de parasita do qual o ser humano pode viver à custa. E se falar de música é inevitável diremos que a obra tem mais de “La Traviata” do que “O Barbeiro de Sevilha“. E isto apesar de uma mulher barbuda que aparece lá pelo meio.

O melhor: Grandes desempenhos pelo duo principal. Uma história bem contada e com uma produção à altura.
O pior: Um pouco longo, devido a uma história secundária dispensável entre um jornalista e uma jovem cantora


Duarte Mata

Notícias