Quinta-feira, 25 Abril

«’71» por Jorge Pereira

Filme sensação de 2014, ’71 demonstra a força do cinema independente britânico, capaz de produzir nos últimos anos pequenas obras extremamente energéticas com recursos bem reduzidos (basta lembrar Metro Manila, por exemplo).

Pegando no conceito “behind enemy lines” (atrás das linhas inimigas) que o cinema tanto gosta e focando-se numa ferida ainda aberta no Reino Unido, seguimos no filme um soldado britânico que é enviado para uma Belfast a ferro e fogo para travar um motim. No meio da confusão este homem é deixado para trás, sendo perseguido por algumas facções que apelam à independência da Irlanda do Norte e que pensam que se o capturarem poderão ter mais valias para o longo combate que os aguarda. O resto da história é fácil de antever, já que o objetivo deste homem é a sobrevivência – isto num local onde facilmente o olham como um alvo a abater.

É inevitável não pensar em Bloody Sunday (Domingo Sangrento, 2002) como referência cinematográfica para o conflito na Irlanda do Norte (em especial para a época definida como The Troubles), tal como não citar a influência do estilo de Paul Greengrass (a trémula câmara de mão que persegue/acompanha as personagens, um realismo duro e sujo) nesta primeira incursão de Yann Damange nas longas-metragens.

Ainda assim, Damange consegue fugir a muitas das manipulações (politicas e sentimentais) características do género e ao tom jornalístico/histórico de seguir apenas os factos, optando mais por um registo de suspense exaltado. A abordagem é facilitada porque o espectador cria sem dificuldades empatia com as personagens que vai conhecendo, sejam estas soldados em fuga (Jack O’Connell), ou crianças que se comportam como adultos – como Sean (Barry Keoghan), um pequeno ator que transmite um certo espírito Selfish Giant (2013), como Conner Chapman o fez num registo temático completamente diferente sob as ordens de Clio Barnard (cineasta que já de si tem muito de Ken Loach).

Assim, ’71 explora muito bem os seus parcos recursos para produzir um drama histórico (com conflitos politicos internos e externos) e um thriller de ação que nunca trata superficialmente as suas personagens, transformando-se assim facilmente num dos mais frenéticos e envolventes filmes britânicos da história recente.

O Melhor: A tensão, as interpretações e as várias camadas de interesse do enredo
O Pior: Perde um pouco gás no último terço. Levou um ano e meio a chegar às nossas salas?


Jorge Pereira

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