Terça-feira, 16 Abril

«Black Mass – Jogo Sujo» por Fernando Vasquez

Ao longo das últimas décadas, Johnny Depp cresceu de um herói adolescente na televisão até uma das mais requisitadas estrelas de Hollywood. Durante este processo, as suas performances, inquestionavelmente únicas e ímpares independentemente de gostos e simpatias, raramente geraram suficientes elogios que justificassem maiores voos. Apesar de grandes sucessos entre o publico, a carreira de Deep parecia destinada a entrar numa curva descendente após desastres de bilheteira como O Mascarilha. Com Black Mass – Jogo Sujo, de Scott Cooper, parece que Depp finalmente será capaz de justificar o Óscar que há muito Hollywood lhe quer oferecer, e diga-se, que se tal acontecer, será com inteira justiça.

O ator norte-americano encarna o papel de Whitey Bulger, um gangster psicopata do sul de Boston que em meados da década de 70 uniu forças com as autoridades de forma a controlar a cidade e os vários gangues que a dominavam. Jogo Sujo trata-se portanto mais de uma intriga com contornos políticos do que a habitual visão romântica do mundo do crime. E é exatamente nesse sentido que o filme se torna um sucesso como há muito não víamos.

Scott Cooper não exige a habitual sintonia entre protagonista e audiência, pelo contrário. À exceção da primeira parte do filme, onde Bulger é nos apresentado como uma figura respeitada pela família e comunidade local, o protagonista é simplesmente uma personificação do estereotipo cruel e maquiavélico do mafioso. Por mais estranho que pareça, esta visão é extremamente refrescante. Existe uma tendência nos filmes do género em se transformarem em dissertações quase metafisicas, onde os protagonistas estão em constante conflito moral no que toca às suas ações. Esse mesmo cariz está virtualmente ausente em Jogo Sujo. Não há simpatia possível, nem mesmo quando Bulger é a vitima.

Por essa mesma razão, Bulger é uma personagem que em nada exige a habitual caricatura “Deppiniana”. Controlado, maduro e sempre seguro, o ator norte-americano aparece agora como nunca o vimos antes, sendo capaz de liderar um elenco de luxo, que inclui ainda um imponente Benedict Cumberbatch e uma bastante menos astuta Dakota Johnson. É neste registo que Depp se notabiliza, sendo uma ameaça constante no grande ecrã, um predador e um psicopata que não olha a meios para atingir os seus objetivos.

O trabalho de caracterização é também ele exemplar, transformando um dos meninos bonitos de Hollywood numa espécie de réptil, com um olhar frio e predatório que a apesar de movimentos calculados pode atacar a qualquer momento.

Por estas e outras razões, Cooper aposta mais na criação de ambientes hostis do que em ação pura e dura. Como tal, Jogo Sujo perde muitas das qualidades que sempre atraíram, em massa, os fãs do género, preferindo em contrapartida entrar por caminhos mais apelativos a uma audiência mais madura. O resultado é um filme que caíra bem na academia, adivinhando-se grande sucesso na época dos prémios, com Depp a encabeçar desde já a lista de pretendentes à famosa estatueta.

Melhor – O olhar frio e calculista de Johnny Depp
Pior – A falta de confiança de Dakota Johnson para estas andanças


Fernando Vasquez

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