Sexta-feira, 19 Abril

«Howl» por Roni Nunes

O cinema de terror visualmente explícito já passou por diversas fases quando, dada a evolução das sensibilidades, atingiu em certos momentos um estado moribundo. Nestas alturas, parece que só as obras mais sugestivas e psicológicas, através de terríficas atmosferas, podem causar medo. E é aí que, a contrariar esta evidência enganosa, algum maquilhador/realizador inventivo aparece com algo novo e Howl é o exemplo de um projeto verdadeiramente assustador na sua expressão mais elementar e primitiva: o filme de monstros.

Joe (Ed Speelers) é um pacato cobrador dos “Caminhos de Ferro” ingleses que acaba de saber que não será promovido enquanto nutre uma férrea, mas platónica, paixão pela sua colega de trabalho, Ellen (Holly Weston). Mas Joe não é totalmente desprovido de ação e alguma audácia: é para estar perto dela e, quem lhe dera, convencê-la à uma saída noturna, que ele mete-se num turno extra na viagem que, como se pode adivinhar, não será propriamente romântica.

Paul Hyett cria uma história de cerco frequentemente trespassada pelos ícones dos filmes-catástrofe, notoriamente a trajetória de personagens unidos por um destino comum e que vão desaparecendo ou lutando contra o infortúnio. E é aí que reside a sua maior fraqueza – quando o argumento falha em dar-lhes uma dimensão que realmente o afastem do lugar-comum. O tema da autoafirmação acaba por sobressair nas cenas com Joe e com um secundário, Matthew (Amit Shah), mas ficando-se demasiado pela superfície para suscitar maiores emoções.

Mas quando entram em cena os verdadeiros protagonistas, no entanto, Howl transita para um patamar entusiasmante de adrenalina, onde as criaturas são efetivamente aterrorizantes e apoiadas por uma dose inaudita de violência gratuita. Hyett não explica o que está a acontecer, deixando que seja o espectador a preencher a lacuna – num recurso que eventualmente máscara também alguma falta de imaginação. No final, fica a sensação que o realizador inglês esteve a um passo de fazer um filme memorável. Quem sabe na próxima.

O MELHOR: as criaturas, certamente, verdadeiramente terríficas.
O PIOR: os personagens, que a custo escapam ao cliché.


Roni Nunes

 

 

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