Antes de se aventurar em super-heróis envolvidos em enredos pomposos (está anunciado como o realizador do próximo filme do Homem-Aranha), Jon Watts instala-se no minimalismo e extrai dele as ramificações do drama e a corrente enfática deste filme.

Cop Car, cujo título revela o macguffin por detrás de toda a intriga, é um carro de patrulha que se estabelece como impulso para as suas personagens, tão desconhecidas como familiares. Aqui, o veículo, supostamente ao abandono numa isolada clareira, é encontrado por duas crianças que decidem experimentar esta oportunidade “caída dos céus”. Uma brincadeira inocente que acaba por se transformar num curioso jogo de gato e rato no preciso momento em que o xerife, detentor da viatura, as persegue a fim de evitar uma verdadeira catástrofe que terá consequências para ambos os lados.

Cop Car resolve-se numa intensa catarse para com o seu tema principal, a América profunda dominada pela violência e pela ignorância, esta última aludida através da sugerida inocência das duas crianças protagonistas. Jon Watts pode ter construído uma obra onde a simplicidade é mais um factor com aparente limitação argumentativa, mas o que deparamos é um extenso ensaio subliminar. Uma mensagem social e complexa inserida numa garrafa e jogada para o seio do oceano, vaga mas suficientemente propícia a leituras desse foro, apenas disponíveis a quem realmente deseja procurá-las.

A exposição da juventude face a tais elementos de violência (como armas) ou da inevitável tentação do crime (neste caso o furto) resultam numa sequência ideológica que se ergue como uma escadaria para um rompante clímax. Neste terceiro ato, confirma-se que o espectador é sobretudo uma audiência visual, sem nunca superar o conhecimento face ao leque de personagens e seus respetivos destinos. No final, a escuridão da noite abraça o destino destas figuras ambulantes, de partida incógnita e de chegada indefinida, a perfeita metáfora do desconhecido que nos afronta. Novamente sublinhando, Jon Watts tornou possível tamanha simplicidade estrutural, mas por vezes é essa aparente singeleza que se esconde as mais ricas palavras e expressões. Um exercício sugestivo!

Pelo meio, um Kevin Bacon regressado aos seus desempenhos vitalícios: claramente o seu xerife é uma porção generosa de ambiguidade que desperta um sentimento de desconfiança em pleno confronto.