Sábado, 20 Abril

«Sparrows» por Paulo Portugal

O cinema deste promissor islandês consegue na sua segunda longa metragem mostrar uma maturidade de narrativa cinematográfica intensa e coerente. Não surpreende por isso a quantidade de prémios obtidos com as suas curtas (The Last Farm, de 2004, e 2 Birds, de 2008), bem como com a longa anterior Volcano, de 2011, num permanente oscilar de momentos cruciais, de mudança, tanto na primeira idade ou adolescência, como o que fazer nos derradeiros momentos. E sempre com todo o peso da natureza imponente dos nórdicos fiordes a acentuar todas as sombras.

Se em Volcano (bem como algo aflorado em The Last Farm) temos a força e energia física de um homem do mar a ser desafiada pelos desígnios da vida, quando a sua companheira fica estado vegetativo – numa coincidência muito próxima do Amour, de Haneke viria a ser celebrado um ano mais tarde -, em Sparrows, pelo contrário, é o jovem de voz angelical que é forçado a viver com o pai afastado durante o verão. E a sentir o desejo e a repulsa de uma terra em permanente energia fruto do imponente e luminoso solstício do verão sublinhado pelo eficaz e descritivo trabalho fotográfico. Um percurso que deixará as suas marcas, as suas cicatrizes. É o contacto com o sexo, com o álcool e outras substâncias, mas também com os seus revezes. Fará tudo, afinal de contas parte um processo de amadurecimento? Talvez. Mas o que mais importa é a forma como a narrativa evolui, de forma gradual, embora para algo que não se possa considerar clímax, mas mais o seu oposto.

Pelo meio, sempre uma profunda humanidade em que os adultos regressam à adolescência e os jovens vivem a maturidade. É neste deambular que se sente a vontade do cinema de Rúnarsson para crescer ainda mais.


Paulo Portugal

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