Sábado, 20 Abril

«Amor Eterno» por André Gonçalves

O Queer Lisboa 19 revela-nos o seu lado mais obscuro ao 4º dia. Se o mexicano Me Quedo Contigo (na secção Queer Art) teve honra de estreia nacional na edição deste ano do MOTELx, há um par de semanas, este Amor Eterno, vencedor de um prémio no Festival de Cinema de Sitges, merecia igual prestígio.

A obra começa numa discussão de sala de aula sobre o que origina o amor ou o desejo – e se resiste apenas só o último na realidade. Na hora seguinte, somos postos à prova destas teorias. Um professor de mandarim encontra um aluno seu no “bosque encantado” de Montjuic (Barcelona), uma zona propícia a engates, despoletando assim uma teia de desejo (ou mesmo amor) para a qual desde cedo se adivinha um desenlace infeliz.

Nesta sua segunda longa-metragem, Forés insiste em planos “voyeurísticos” – i.e. do lado do espectador e aprimora os planos longos. Uma sequência em particular, decorrida no carro do protagonista, põe a um canto outros realizadores pretensiosos a brincar com o formato “porno” com o seu erotismo.

O erotismo eventualmente convida a morte, só para variar um pouco, e no final, o realizador espanhol arranca precisamente o que pretende, numa “punch line” deliciosamente macabra que inclui, aliás, o próprio título (irónico) da película espetado em letras vermelhas gigantes.

Amor Eterno pode não ter a maturidade temática de O Desconhecido do Lago, e o murro de estômago recebido é mais facilmente antecipado que o de um Brincadeiras Perigosas, mas existindo algures neste espetro, está uma proposta cruelmente incisiva e ousada na sua intransigência narrativa.


André Gonçalves

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